29.3.10

PLEASE DO NOT DISTURB

Ausento-me por 1 semana, mas fica a promessa de novas aventuras para breve, desta vez no país do Sol Nascente...

28.3.10

IT'S ALL ABOUT PERSPECTIVE


Em 8 dias em Macau ainda não tinha tirado uma foto. Bem sei que o facto de ter perdido o carregador não ajudava muito, mas resolvido esse problema, passei alguns dias sem alguma vontade de o fazer...
É que, pensava eu, que vou fotografar? Ando em dilema interno de memórias a ver se me esqueço do que se tornou, portanto quanto menos imagens melhor, depois a minha máquina não tem uma lente que me permita apanhar os prédios altíssimos ou profundidade suficiente sem que perca a definição... O tempo também não ajuda, a poluição torna o ar menos definido. Desculpas... talvez...
Mas passeando pela Rua da Felicidade, encontrei um Macau que há muito já achava perdido, aliás eram até coisas de que já nem tinha memória. Néons, restaurantes, doces, cor, portas vermelhas, casas antigas, parecia que tinha voltado atrás no tempo. Quando dei por tirava fotos às coisas mais bizarras que possam imaginar. A tal porta vermelha, a roupa estendida, o pormenor do caixote do lixo, as manchas de humidade nas paredes, textura do chão, as pingas de gordura e de óleo, o cão amputado, senti-me num ambiente meio surrealista, inspirador duma nova visão e dum entusiasmo quase infantil.
Descobri que no fundo é só uma questão de mudança de perspectiva. Abstraímo-nos da contextualidade e isolamos o momento que não sendo assim teria sido perdido completamente...


P.S:Prometo-vos que voltada à base mostro-vos as 'novas' memórias macaenses...

27.3.10

HAC-SÁ

Um outro momento nostálgico foi quando me deparei na praia de Hác-Sá. Praia dito assim, ainda para mais no sudeste asiático remete-nos para paisagens tropicais, água azul turquesa, areia fininha cor de sal... Presumo que quem conhece a praia de que vos falo tenha começado a rir...
Pois, esta praia não é nada disso... É uma praia, tem água, tem areia. A areia é fininha, mas em vez de cor de sal é cor de carvão e é daquela que se cola ao corpo, imaginem isto com protectores em cima e nós uns croquetes bem queimadinhos... A água é cor de barro e não ter coisas a boiar já é uma sorte; é que aqui estamos no delta do Rio das Pérolas... Engraçado, que aqui nada mudou. E pensando nas praias portuguesas, percebo o quão privados estávamos nós de praia... É quase como ir para Barceloneta mergulhar na praia artificial...
No entanto a tranquilidade continua a reinar, ainda existe o restaurante Fernando, os pinheiros bravos onde muitas das famílias chineses faziam os piqueniques de fim-de-semana e aquelas coxas de galinha com mel... Aqui fiquei horas e horas sentada em pleno estado Zen, no mesmo estado de espírito de como se estivesse no mais exótico destino tropical...

26.3.10

BACK TO SCHOOL

Dou comigo a recusar o que mudou em Macau, tenho a sensação de que há certas zonas da cidade, que simplesmente apago com uma borracha. Fecho os olhos e tento recuperar aquilo que foi. Não é que eu seja uma pessoa nostálgica e virada para o passado, pelo contrário, mas se em tempos procurava com entusiasmo as diferenças entre um tempo e outro, hoje, há coisas que prefiro deixar como estão...
Voltar ao Liceu foi uma delas. A escola podia ter sido em Macau ou em Portugal, a verdade é que também há anos que não entro na faculdade, com a diferença de que esta última continua decadente e igual a si própria, apenas algumas mudanças na envolvente.... Em Macau a história é outra, viramos as costas e passado 6 meses surge um novo 'cogumelo', praga da humidade... Ora, imaginem isto em 10-13 anos. Estive alguns dias a 'evitar' lá ir, arranjava 1001 desculpas para não passar à porta, até que achei que tinha chegado a hora...
Cheguei ao ZAPE (Jardim dos Skatistas) e fiquei baralhada se me tinha enganado na rua. O Liceu 'respirava' naquela zona, ainda sou do tempo em que era o único edifício daquela área e que ir para lá era como ir para o Desterro... Hoje o edifício parece quase de brincar, tímido, desolado, escondido atrás duma série de casinos e desconfio que daqui a 10 anos será completamente engolido pelos outros... Atrás umas torres, alguém me disse que os pavilhões de Ed. Física foram-se há muito, a paisagem está completamente transformada...
Estive vai não vai para entrar... Mas algo que me fez parar, julgo que não quis entrar sozinha, com receio de ter o choque da minha vida... A verdade é que apesar do entusiasmo de antigos alunos que dizem que o interior então melhorou susbstancialmente, isto não me espanta, dado que 'crescemos' num ambiente taveirista, acho que até isso o tornava único. Foram muitos os momentos e achei que entrar seria uma troca um pouco injusta, era sobrepôr memórias, as quais prefiro não perder.
Perante isto, fiquei à porta, imaginando o toque para entrar, a algazarra para descer as escadas, o eco do átrio, o chão peganhento da humidade, o cheiro do Bar, os berros da D. Cristina, a contínua, senti-me completamente inerte, olhei uma última vez e o Liceu pareceu-me pequenino...

25.3.10

REDEMPTION

Estou a adorar perceber que aos poucos recupero os meus leitores que há muito já dava como perdidos. Como redenção dos meus pecados, continuo a escrever... para compensar a falta de imagens...

22.3.10

FOLLOW ME

Este post faz sentido a quem conhece Macau... Aos outros peço desculpa, mas talvez fique aqui a deixa para conhecerem... Ou então imaginem-se como o cego que é guiado por Amélie Poulain, neste caso Prainha.
Estou a dormir junto ao Hotel Sintra, perto da antiga Escola Comercial ou então de onde os meninos faziam skate e era a loucura da altura. Saio da porta e à minha direita tenho o Hotel Lisboa e o 'famoso' ananás, vulgo flor de lótus ou raios que o parta, porque uma coisa assim faz-me dar a volta ao estômago, mais uma oportunidade perdida...
Mas sigam-me porque nós viramos à esquerda a caminho do Leal Senado, na Almeida Ribeiro. Passamos o BCM e o BNU e subimos a avenida até ao Largo do Leal Senado. Aí está tudo como o deixámos, aliás até mais arranjadinho. Os turistas multiplicam-se em fotos e fotos de fontes e calçada portuguesa... Aliás essa é uma novidade, as ruas estão agora calcetadas, e esta hein? Continuamos, uma chinesa faz a pose mais lamechas que eu alguma vez vi, mas eu não páro de sorrir, essa aí à vossa esquerda...
Farmácia Popular, Igreja, a Livraria Portuguesa, mas antes disso viro para a Rua da Palha. O cheiro continua o mesmo, eu nem quero acreditar, algo entre os fritos da esquina e os cozidos da tasca. Continuo a subir até às Ruínas de S. Paulo. Ora aí estão, same, same, mais flores, mais turistas, subo até lá acima e começo a descer em direcção ao Jardim Camões.
O Camões continua Camões, cego dum olho... os velhotes, os passarinhos, as crianças a brincar... Dou a volta ao Jardim e agora... já não me lembrava disto, a patinagem no gelo e o bowling... Aí parece que o tempo não passou, como estava foi como ficou. Continuo, os bombeiros e desço na rua do Cinema Alegria. Rings the bell? Só de vez em quando tinham alguns filmes ingleses, naqueles outdoors pintados à mão...
Quando dou por mim estou na zona do mercado vermelho e no largo dos 3 candeeiros, aqui perdi-me pelas mesmas tendinhas, mais chinesas, mais caras, mais trapos... Continuo, estou à porta do Queen´s Court, o Mc Donald´s onde fizémos um tal 'Cunhado' assinar uma dedicatória. Continuo a rua e o Walker's e o Talker's já não existem...
Passo pelo Templo de Kun Iam, D. Bosco e dou comigo no Hoi Fu. Continuo a andar e volto a descer a Horta e Costa... O Conservatório... Jardim do Lou Lim Ieok e Tap Seac... que também já não existe, para dar lugar não sei bem a quê.
Desço a Rua do Campo, o Mc Donald´s à vossa direita, ainda parece que nos estou a ver ali no ponto de encontro e passando à porta do Sta. Rosa, subo até ao Jardim S. Francisco Xavier... Sento-me e descanso...
Sinto-me num tumulto emocional, nem sei bem porquê, desculpo no jet lag esta falta de ar, esta cabeça meio aérea... Também não há razões para isso, ah, alguém me diz que é da qualidade do ar... Hoje não aconselham a fazer desportos ao ar livre que nem se respira...
Eu acredito, mas no fundo, sei que é inevitável viver-se entre este confronto com o que foi e o que ficou ou que já era... Imaginem-se numa pista de carrinhos de choque, em que somos abalroados de todos os lados, mas que no fundo não faz grande mossa ou será que faz?

21.3.10

MACAU

Macau continua Macau... Deambulo pelas ruas e no fundo sinto-me em casa. Já parti há 13 anos e meio, já não voltava há 10 anos.
É muito tempo mas a sensação é a mesma no que diz respeito ao sentimento de pertença a um lugar... The sense of belonging, engraçado, que defendi isto perante uma audiência de 200 pessoas a propósito dum projecto e nem encontrava tradução em português ou palavras para descrever tamanha sensação. E no fundo aqui estou eu... belonging... Sim, pertencente talvez, mas não rendida.
Sinto-me em casa, encontrei os 'chinelos' no mesmo sítio mas entretanto já me mudaram algumas 'prateleiras' e alguma mobília...
Parece que estou a entrar numa casa velha e fechando os olhos consigo imaginar e ver as pessoas que fizeram parte desse universo... Procuro agarrá-las mas tudo se desvanece num segundo...
E sorrio, porque percebo que já passou, que esse momento passou e por isso é que é 'adocicado'...
É óptimo rever, revisitar, voltar à cena do crime, nem que mais não seja para apaziguarmos a nossa alma das opções que tomamos.
Estes últimos 6 meses da minha vida têm sido dos mais intensos da minha vida, já para não falar dos mais entusiasmantes e melhores da minha vida por todas as coisas. Pelas boas e pelas más... Sou confrontada semana a semana como novos desafios e nem sei onde vou buscar a energia para continuar... Desculpem.me desviei-me agora, falava de Macau e dos sentimentos que me têm acompanhado estes dias...
A pergunta é inevitável: Voltavas a viver em Macau? Tenho ouvido isto vezes sem conta e a resposta em mim é sempre a mesma... Neste momento não...
Há uns meses atrás faziam-me o mesmo relativamente a Londres: If you had the opportunity, would you stay? E eu até tinha a oportunidade mas algo em mim já tinha deixado Londres há muito tempo. Voltei a responder que não.
É verdade que nos fica pode ficar a dúvida ou a hipótese do 'se', mas desta vez é diferente... É como um velho amor para o qual temos a oportunidade de voltar e reconciliarmo-nos mas entretanto já não faz sentido porque cada um de nós cresceu para o seu lado. É um forçar duma relação que há muito já terminou e da qual resta carinho e memórias e no fundo sabemos que é assim que deve continuar...
Tenho visto muitas caras conhecidas, do meu tempo, pessoas que regressaram, por diversas e variadas razões. Admiro-os mas no fundo sei que não é para mim... Ao fim duns tempos o entusiasmo e o convívio dariam azo a uma claustrofobia emocional e eu não teria para onde fugir... porque fisicamente também não há expansão possível...
Basicamente sei que se neste momento voltasse seria pelas razões erradas, em busca dum tempo perdido em que não havia responsabilidades... Talvez voltaria para fazer parte dum convívio com pessoas com as quais cresci, quase um intercâmbio, em que procurando referências passamos a ser todos parte duma BIG HAPPY FAMILY. Intercâmbio já não seria, pelo contrário, mas o conforto duma casa em que nos movimentamos intuitivamente e que os momentos são fluidos...
Nem sei porque vos digo isto, talvez para eu própria me convencer que nem sempre o lugar em que nos sentimos em casa é o sítio a que pertencemos... e no fundo não faz mal...

20.3.10

RETURNING TO THE CRIME SCENE

Contrariamente ao que tem sido o meu blog, o registo de histórias, vou experimentar outro estilo, hoje apetece-me registar aqui histórias muito presentes.
Estou em Macau, lugar onde não vinha há mais de 10 anos e nem sei descrever qual é a sensação... Um misto de jet lag, de uma palpitação nervosa, uma excitação incontrolável... É como voltar a casa e descobrir que há coisas que estão na mesma, que os chinelos estão no mesmo lugar...
Ou então, olhar para a janela onde os néons e os LEDs teimam em invadir-nos o espaço e a cor da alma e nós completamente impotentes para os impedirmos. Também já não nos pertencem, nem eu lhes pertenço também...
Depois duma noite curta, onde a partir das 6 da manhã, os olhos não se fecharam mais, fiz o primeiro reconhecimento à cidade... Apesar de saber que a cidade está muito mudada, senti que havia ainda muita coisa que eu já tinha dado como perdida mas que continua igual...
Tento descrever essa sensação de conforto, esse vazio reconfortante que me invadiu... Fiz rir a empregada do restaurante com o meu ar de espanto quando descobri que as moedas não mudaram, dei por mim a sorrir perante a ameaça de escarro dum velho que se aproximava, o som do mah jong na Rua dos Tintins, os velhotes a fazer tai-chi no Jardim Camões e o passeio dos passarinhos no Lou Lim Ieok. Suspirei de alívio ao ver a Escola Primária ainda em cor-de-rosa e as casas onde vivi tal e qual como as deixei, o Mc Donald's, ponto de encontro de adolescência, os pivetes no Templo de Ah-Ma, as Portas do Entendimento, apesar de perdidas na amálgama de vias e pontes que a atravessam. O cheiro dos gauffres e das bolinhas de massa, a Livraria Portuguesa, subir a rua da Palma em direcção às Ruínas de São Paulo. Senti-me a levitar o dia todo, completamente inebriada em memórias... imagens passavam-me pela cabeça, pessoas de quem já não me lembrava invadiram-me esses momentos, outros bem presentes...
No fundo percebi que realmente o é importante são as coisas que ficam e não as que mudam, porque dessas posso eu viver, as outras não me dizem nada...

19.3.10

BEFORE SUNRISE

Estou a entrar nos últimos dias da viagem. De regresso a KK encontrei-me por acaso com a Lisa e os miúdos, o Home stay deles não tinha corrido como desejado e tinham voltado mais cedo. Voltar ao Step-in Lodge foi como voltar a casa, toda a gente já me conhecia e eu já tinha encontros combinados. Fomos todos tal como família jantar a casa do Dev e da Pam e despedia-me então finalmente de KK.
À minha partida para Kuala Lumpur percebi que as minhas flatmates dinamarquesas também seguiam para lá onde esperavam ficar 2 dias para conhecer a cidade. Propuseram-me ficarmos todas no mesmo quarto. Aceitei. Deambulámos pela cidade juntas mas cedo percebi que não tínhamos muito a ver, chegámo-nos a separar eventualmente por diversidade de interesses. Ainda subimos juntas às Petronas Towers, eu ainda na esperaça de que o Sean Connery me socorresse desta cidade, mas não tive sorte. Dei por mim no Jardim das Borboletas enquanto a elas lhes era recusada a entrada para a Mesquita. Decidi finalmente mimar-me, fiz as derradeiras compras e até em pestanas falsas resolvi investir para me sentir mais 'menina'.
Vivia no dilema entre o querer ir embora e os meus últimos dias de férias, basicamente aquela sensação agri-doce do final em que o nosso corpo pede descanso e o nosso espírito inconforma-se com o destino que nos espera de rotina ou de regresso a uma realidade, da qual primeiramente quisémos fugir... E depois de 2 semanas em que desci ao fundo, subi ao céu, chafurdei na lama e saí de mim própria, voltar à cidade parecia uma devolução demasiado brusca da realidade. Não me levem a mal, a cidade até é interessante, quase podia chamar uma típica metrópole asiática, algo entre Hong-Kong e Bangkok. Sentia-me nova, diferente, mas talvez por isso o choque ainda era maior.
Finalmente deixei o quarto, eram 4h 30 da manhã. Ainda era de noite, mas corria uma fresca brisa que até me soube bem, apanhei a camioneta que me deixava no aeroporto. Cheguei e corri para o terminal. Procurei, procurei e... ali estava ele... David, meio ensonado, vinha a arrastar a mochila. Tinha passado a noite no aeroporto à espera do vôo de regresso à Austrália. Tínhamos combinado tomar o pequeno-almoço juntos... Pusémos a conversa em dia, ele contou-me o que tinha feito naqueles dias, o mar fantástico que tinha encontrado, o escaldão que tinha apanhado, a tartaruga que o tinha vigiado... Parecíamos dois velhos amigos a falar sobre a vida... O momento de silêncio chegou, talvez pelo cansaço ou pelo esgotamento de tema, a verdade é que nascia o Sol e tanto eu como ele lutávamos para com a luz vermelha que entrava pela cobertura de vidro...
Before sunrise... - pensei eu... Sorri, ele sorriu de volta... Despedimo-nos e nunca mais o vi...
A partir daqui já sabem, acabo onde comecei...