28.4.10

COSPLAY


Domingo em Tóquio é como andar num parque de diversões. Em Harajuku juntam-se as adolescentes urbanas e afins mais conhecidas por Harajuku girls. Adolescentes maquilhadas em excesso pousam para as câmaras, o estilo lolita gótica ou visual kei tornam-nas numas verdadeiras heroínas de manga. Há quem explique o fenómeno dizendo que são meninas dos arredores de Tóquio que são marginalizadas na escola e que neste movimento têm oportunidade de sobressair e explorar o próprio super-ego. Confesso que só no Japão alguém se daria ao trabalho de passar horas a vestir-se daquela maneira para o passeio de domingo em pleno centro de Tóquio, tornando-se um verdadeiro ponto obrigatório de passagem para os turistas ocidentais.
Percorrendo até ao parque de Meiji, passamos por outro fenómeno a que dão o nome de Cosplay. Cosplay é praticamente um carnaval ocidental, ou seja, vale tudo onde toda a gente se veste daquilo que lhe apetece, principalmente personagens manga ou de super heróis...
engraçado que hoje recordando essas personagens, não posso deixar de sorrir. Lembro-me de ver uns 10 Elvis com traços orientais e mais um grupo vestido de cor-de-rosa, algo entre a Lolita e a Miss Piggy.
Também foi neste dia que tivémos a nossa pior experiência gastronómica... Quisémos experimentar as barraquinhas do jardim. Tudo tinha excelente aspecto, até experimentarmos uma tipo omelete com um molho desconhecido. Quando levei a omelete à boca, nesse preciso também eu me senti um cosplayer, achei que tinha virado desenho animado, tinha ficado verde, vermelha, prestes a conter um vómito. A T. olhou para mim, timidamente, e também confessou que era intragável... Depois disto fomo-nos recompor num restaurante que em tempos tinha sido um sítio de banhos públicos. Enchemo-no-nos de tempura para tirar o sabor da omelete...
Recuperadas seguimos para Shibuya onde se encontra a famosa estátua do cão Hachi. Daquelas histórias verídicas de levar a lágrimita ao canto do olho e que reza o seguinte: nos anos 20 um professor adoptou um cão abandonado e este passou a acompanhá-lo todos os dias até à estação onde apanhava o comboio para a escola. O cão não só o acompanhava como esperava-o até ao regresso do trabalho... Até um dia que o professor não voltou... Tinha falecido com um ataque cardíaco. No entanto o cão continuou a ir esperá-lo à estação e em homenagem à lealdade deste cão os habitantes fizeram-lhe uma estátua que hoje se transformou no ponto de encontro de Shibuya. Uma história de nó na garganta imortalizada há pouco tempo por Hollywood, por Richard Gere. Resta-nos a dúvida neste caso se o Hachi afinal era uma ela e se não era por isso que esperava o seu querido...
Passando à frente, também é em Shibuya que se encontra a famosa passadeira cruzada de Tóquio. Também eu fiz parte daquele maralhal que em poucos minutos atravessa e se torna num mar de gente, formiguinhas anónimas num mundo que ninguém entende...
Encerrámos a nossa excursão toquiana em frente à loja da Prada. Não porque fôssemos comprar nada, já cá faltava esse item, mas porque esta loja é um ícone arquitectónico e lá fomos nós picar o ponto. Esfomeadas também, desenráscamo-nos num restaurante de tapas japonesas. Isto num ambiente que fazia lembrar os bares / pubs nova-iorquinos pós-laborais. O fumo dos cigarros impregnava o espaço concedendo-lhe um ar algo decadente mas extremamente cosmopolita... Os empregados não falavam inglês e nós limitávamo-nos a apontar e a sorrir para tudo o que nos diziam... Nem vos sei descrever o que comi mas foram sem dúvida as melhores tapas dos últimos tempos. Eu sentia-me em casa... em Tóquio, quem diria...


22.4.10

TOKYO



Se Macau foi um reviver de memórias, Tóquio foi o de desfazer pseudo-memórias. Digo isto porque todos nós já vimos filmes, imagens desta cidade, temos algumas referências daquilo que ouvimos, do que lemos... Criei uma imagem dum mundo que me era desconhecido e que por resistência inconsciente nunca nutri um desejo imenso de o ver por mim própria. Julgo que talvez por preconceito ou mesmo falta de interesse por algo que achava que não me diria nada.
Surpreendida, descobri um mundo que ia para além da minha compreensão ou imaginação, senti-me criança sem o ser. Como alguém diria, é uma sociedade dum mundo tecnologicamente avançado e do mais cívico que existe, mas de um naivismo que nos cativa e fascina sem sabermos porquê. É isso! ... Talvez...
No preciso momento que saí do comboio em pleno Shinjuku desfiz todos os meus preconceitos que tinha relativamente a esta cidade. Arrastei a mala e embrenhei-me pela multidão... Tudo era novo, no fundo era como se tivesse apagado com uma borracha tudo o que tinha pré-concebido. E mais ainda, por graça, parecia que tinha entrado num jogo de computador, parece que somos transportados para o Super Mario: os semáforos, os comboios, os torniquetes da estação... E eu senti-me uma super Prainha, não super com letra maiúscula mas talvez um super com sotaque francês, em que tudo é fenomenal...
Se tinham como referência um Lost in Translation em que Tóquio nos transpõe para um mundo quase incompreensível em que nos sentimos perdidos e distantes, esqueçam. Também eu o tinha e de repente percebi que estava errada, não me senti uma estranha, muito pelo contrário, senti-me em casa. Oh, Ásia, talvez... É sempre casa! Mas não, digo-vos, foi mais que isso. Tóquio é voltar a essa infância perdida, quase naive: néons de todas as cores, uma parafernália de luzes, jogos de máquinas, uma excitação infantil que paira no ar... Mundo no qual embarcamos e que vibramos como os Japoneses... No fundo eles são pessoas como nós, ou seja, cheguei à conclusão que para mim tal era a distância mental que tinha para com eles que fui surpreendida pela aproximação emocional que tinha por tudo o que me rodeava. Faz sentido? Talvez não... no fundo o histórias sempre foram histórias e agora parecem mais confissões de Prainha.
Back to Tokyo... Decidimos aventurarmo-nos na nossa primeira refeição japonesa. O menú com imagens era bem explícito portanto não houve dúvidas. Ramen. Uma sopa de fitas com coisas a boiar, mas que nos soube como o manjar dos Deuses. De barriga bem cheia sentimo-nos completamente inebriadas com as gentes, as cores, as luzes. Ao fundo, um painel luminoso que dizia WELCOME...
Estávamos finalmente em Tóquio...


12.4.10

LOST IN TRANSIT

Olhei para o écrã das partidas e tínhamos 30 min de atraso. O vôo partia às 3h da tarde. Os 30 mins passaram... Voltei a olhar para o monitor, mais 30 min de espera...
Outros 30 min que passaram e fui tentar saber o que se passava. Problemas operacionais, alegaram, mas daqui a 30 min entram de certeza, garantiram-me...
Passados 180 min entrámos no avião para o comandante 20 mins mais tarde dizer que estávamos à espera de autorização para levantar... talvez mais uns 20 mins... Minuto a minuto os passageiros iam ficando cada vez mais inquietos, curiosos, intrigados, e os hospedeiros e hospedeiras eram bombardeados com questões, as quais evitavam ou nem sabiam como responder... 40 mins depois de novo a voz do comandante para nos anunciar que tínhamos 2 autocarros a vir-nos buscar... Não sabia quantos minutos iria durar a espera... Os minutos já não eram minutos, mas horas... Nisto já eram 6.30 da tarde.
Chegadas ao terminal, o tumulto adivinhava-se, o pessoal de terra sem respostas, passageiros que se recusavam a entrar na sala de espera, polícia à porta, enfim... Eu e a T. para fugirmos a isto recebemos as etiquetas de trânsito e seguimos as indicações que nos tinham dado, para voltarmos ao piso das partidas... Cedo percebemos que tal como nós ninguém fazia ideia exacta do que se passava, para onde enviar os passageiros, o que fazer... Encontrávamo-nos no piso de embarque e mandavam-nos de novo para a fronteira... Claro que o voltar de novo não seria tão simples assim, e acabámos escoltadas até onde se encontravam o resto dos passageiros.
A tripulação foi-se embora para nos darmos conta de que o vôo tinha sido adiado para o dia seguinte. Não havia explicação, justificação, informação, era assim... minutos, horas, dia... estava escuro lá fora e como nós estavam outros tantos passageiros embrulhados em incertezas...
Nem vale a pena descrever as horas que se seguiram, apareceu um canal televisivo e fotógrafos para documentar o evento, a companhia desfazia-se em falta de profissionalismo em lidar com situações de crise, a hospedeira estava em vias de se desfazer em pranto, sei lá, só sei, que me ligaram à meia-noite já eu estava deitada a dizer que tinha um quarto a dividir com outra passageira...
Voámos no dia seguinte às 8 da manhã, quando chegámos a Tóquio nem queríamos acreditar... Ainda tínhamos 2 hrs de comboio até à cidade, mas sem dúvida já tinha estreado a minha primeira aventura Prainhesca...
Hoje acrescento-vos que 1 dia depois viémos a saber por email que a companhia onde tínhamos voado tinha falido nessas 24hrs. Tínhamos feito história na VIVA MACAU, que por sinal, já não era assim tão viva, como o último vôo Macau-Tóquio. Pediram-me para prestar um depoimento para umo jornal e não estivesse em Tóquio provavelmente tinha sido entrevistada na TV e tudo...
Felizmente tudo se resolveu lá para os meados da semana quando o Governo de Macau se empenhou em nos trazer de volta até Macau. Ganhámos 2 dias, perdemos 1 noite... No fim o saldo foi positivo.
Nada que me espantasse, as minhas viagens sempre implicam alguns distúrbios no regresso... Para quem é leitor assíduo, lembrar-se-á de certeza da viagem apocalíptica da Argentina ou então do episódio ´Presa na Ilha' no Vietname... Foi uma parte 2 mas desta vez com maior tranquilidade, talvez característico da sintonia zen que se respira naquele país do sol nascente...

11.4.10

JOÃO BASKET

Já cheguei e embora tenha prometido dar início a mais um episódio de Prainha em Viagem, pediram-me que fizesse um post sobre isto...
Ainda de jet lag e 3 semanas fora foram o pretexto para dar uma volta pelo BA. Para rever amigos, para não ir logo para casa, para sentir a chegada do Verão numa noite quente que nos surpreendeu em pleno Abril.
Estava de saída de um dos bares, quando encontro um grupo de amigos, conhecidos, conversa para aqui e para ali e alguém começa a insistir que o P. era de Benfica... P. insiste que não, que até é mais da zona de Telheiras. - Telheiras!!! Pois, eu só sei que em Telheiras há um campo de basket. Eu sorri, sim, eu sou de Telheiras... E o tal de rapaz, que já me tinha chamado de Luísa, mas que se tinha desculpado a dizer que não tinha queda para nomes, continua a explicar-me onde fica o bendito campo de basket. Basicamente a dar-me indicações para eu chegar à minha rua. Eu ria-me, oh Homem, eu sei onde é, então vivo nessa rua. Sei precisamente onde é o campo de basket.
Ele parou muito sério a olhar para mim, calou-se por uns segundos... e acrescentou...
- Olha e se tu ficasses com o meu nº. de telefone para o caso de eu fazer muito barulho a jogar basket? Assim escusavas de chamar a polícia! Vá, João, João Basket, que é para saberes quem eu sou...