histórias, momentos, encontros, pensamentos, ideias, desencontros, memórias...
da paula, de nós, de mim, da rainha, de todos...
da cidade, do café, do campo, do mundo, da praínha...
28.10.08
PATAGÓNIA EXPRESS 2
Há falta de vida social e histórias londrinas para contar aqui vai mais uma personagem patagónica...
27 de Abril de 2008 - El Calafate, Argentina Chegados à pousada, deixámos as mochilas e perguntámos como podíamos ir para o glaciar. Sorriu, o sorriso mais sedutor que vimos em toda a Patagónia, uns olhos castanhos penetrantes, um charme irradiantemente argentino, chamava-se Fred. Eu sentia-me derreter cada vez que o rapaz falava: - Vos digo como hacer. Ai, sim? Mejor, así. Pois olha que eu nao sei nada e isso pode levar muito tempo a explicar ou pelo menos eu farei por isso, pensei eu. Conclusão da explicação, hoy solo van hacer las marcaciones puès las excursiones solo salen por la manana. Los hacemos para vosotros pero non aceptamos tarjeta, eso solo en la ciudad. – Vale Fred, muchas gracias. Ciudad, aqui vamos. Faço aqui uma pequena interrupção para dizer que do Fred ficou-nos apenas a memória do sorriso, não vão as leitoras já imaginar grandes histórias e aventuras... sim, não quero cá ser acusada de criar expectativas... Continuando, a fome falou mais alto e antes de fazer qualquer marcação optámos por ir almoçar. Té e Felipão, de costas para a entrada do restaurante, viram-me acenar e entreolharam-se. – Era o ‘gigante’ que ia na camioneta. Eu sorri e ele acenou de volta. 20 minutos depois estava a entrar no restaurante. Entreolhámo-nos e perguntou-me: - Can I check something on your Lonely Planet? Familiar esta pergunta. Always use your lonely planet as an excuse, eles bem dizem. Passei o lonely planet e entredentes disse à Té, pergunta típica de quem quer iniciar conversa. Achas, disse-me ela? Amiga, aprende, que isto é o B – A, BA dos backpackers. Dei uma gargalhada. Vieram as perguntas habituais: - Where are you from? Where are you going? How long have you been travelling for? And so on, and so on… Pisquei o olho à Té como quem diz: - Viste? I told you so! Mais uma das minhas personagens patagónicas – Saad. Marroquino, trabalhava com o pai o que o permitia tirar 4 meses do ano para viajar. Metade espanhol, metade marroquino, mas tinha estudado em Inglaterra e vivido em paris. Ainda pensava tirar um MBA mas desistiu, por enquanto… - Me gusta viajar. O discurso metade em espanhol, metade em inglês, ele nem dava conta que falava em spaninglish. Um excelente contador de histórias e de um entusiasmo contagiador ao ponto de 2h depois de termos pago a conta, continuávamos no restaurante. - Saad, we have to go. We haven’t booked the excursions yet and they will close soon, desculpei-me. Sorriu, - Hablo mucho, oh men, I speak too much. Yes, go, si. No hay problema, asi puedo terminar mi sandwich, as I haven’t manage to finish it yet. Corei, mais um daqueles momentos de lost in translation... - Noooooo, nos gusta te escuchar, you are a great story teller, it is just we have to go and we don’t have 4 months ahead of us to travel, just another week. Nos quedamos despuès, si lo quieres. Voltou a sorrir, uma dentadura branca perfeita contrastava com a sua olive skin ou tom de azeitona (só mesmo inglês para chamar azeitona a um tom bronzeado e saudável mediterrânico). – si, dinner? 9 pm? Vale? Nos vemos, ciao. 9 hueras en punto. Para cima, para baixo, não havia forma de ele aparecer. El compas, twin towers, giant, oh, men, I had all names at college. Com a pressa nem trocámos números, nem sabíamos em que pousada estava. 10 mins depois lá apareceu ele. I passed here earlier and I didn’t see you.- I know, we are too small. - disse-lhe. Riu-se. A verdade é que eu ao pé dele dava-lhe pela cintura...
Abri o lonely Planet em busca do restaurante e optámos por uma recomendação do autor para experimentar a verdadera parrilla (lê-se 'parricha') patagónica. Esperámos 1hr pela mesa mas valeu a pena. Oh, man, this is not just the best parrilla in town, this is the biggest parrilla in history. Saad repostou. E realmente tinha razão, uma parrilla para 2 dava para três ou quatro do tamanho dele. Perdoem-me os vegetarianos, mas a carne dum aroma intenso, uma textura suculenta, foi de comer e chorar por mais, aliás chorámos não chorámos mas comer e comer e comer, ai isso sim... Este jantar foi a prova que não é preciso uma multidão para fazer a festa, basta o Saad e as suas histórias. 4 horas de comida, bebida e intensa gargalhada... Passo aqui uma das muitas histórias saadianas que me fez chorar... de riso... - My father has an employee that is fucking scared of camels! Bueno no lo se lo cuento. It's not the most appropriate time to tell you this while we are eating. Oh, Saad, cuenta... Ahora, you finish it... Ok, ok... So this guy is scared of camels, because once upon a time... apparently in one of the oasis in the middle of the desert he was walking around... Suddenly he had cramps (vulgo uma valente dor de barriga). Si las dolores que te dan la vuelta a la barriga. Bueno, desperado, el se decide a buscar un canto escuro para hacer el servicio... He puts his pants down, ready, when suddenly a camel comes from behind and raise him from the floor and literally throws him a couple of meters away... Escusado será dizer que a esta hora quase rebolava pelo chão de tanto rir, dada a teatralidade do Saad, quase podia ver o ar pachorrento do camelo projectar o pobre do homem, indignado com o atentado ao pudor... El tio se quedo traumatizado... if he sees a camel, he jumps to the top of a tree or closes himself indoors. Well, I guess you can't blame the camel, probably it didn't like what he saw...
A whole week passed and tiredness hit me. I ask permission to one leg to move the other and I suddenly drag myself into the dance studio. I lie down on the floor and its warm. I feel my muscles relaxing and I almost fall asleep. 6.45 pm and no sign of the teacher. The pianist decides to check out what is happening. Apologies come, the teacher is incommunicable, no one knows where she is. A replacement, if you don’t mind. It is a bit short notice for Rob but he was around the building and we asked him to give the class which he kindly accepted. There he is. A bit clumsy he enters the room, almost hits the door, trips on his trousers, jumping, hopping, a huge smile and a blue sweater. He keeps on smiling and its contagious. My right cheek asks permission to the left to glimpse a smile. - Hi, I’m Rob. I wasn’t expecting this. I’m not exactly what are you expecting so be open minded. My thoughts fade away and I start wondering it will be hard to concentrate today. Is he… ? nah… I smile even more. He starts explaining the exercise and he is looking at me. Is he… ? Nah, I think… I smile. He laughs. - Guys, you are so funny. You are so serious. You have to smile and relax your face muscles… he makes funny faces and makes all laugh. Ups… a jump there, a John Travolta move, ok, ok… maybe he is… Ok, concentrate now. 1…2…3…4, spin and jump. Focus, legs, arms, right, left… music… - oh, the pianist is singing… we like that… The contagious energy is spread everywhere, people start talking to each other… I smile, it is becoming actually funny. Is he… ? nah… He feels a bit lost here, I think, maybe that’s why is smiling and giggling… he is nervous, he doesn’t know what is next. I relax as well, so it is not just me here. 1,2,3,4,5,6,7,8. right, left, jump, move… hey, I know it is tempting but no jazz here or disco ball style – he adds. Uhh, with those moves, is he…? Maybe… The class ends. He thanks, he apologises for the unusual class. – These trousers are not even mine, they are from the girl at reception. I was just about to leave the school. I’m a rap teacher. I usually teach young kids… so this was quite unusual for me as well! I don’t resist and say to him: - Whatever you take, I want it as well. you need to share! He just laughs. Back to the changing rooms, I’m on my way out. He is outside, smiling, laughing as usual, and talking to the receptionists. I think: Is he… ? I take a better look… with that fashion style?… Is he… ? Nahhhhhhhh… No way… no gay… My cheeks did not ask permission anymore, they just made me smile…
Para quem segue religiosamente o meu blog sabe que eu não estou numa das melhores semanas por muitas e diversas razões e a comprová-lo é o facto que nunca este blog viu tanto post junto e de tão variados assuntos.
Sei que os leitores agradecem (ou talvez não) dado que ainda não recebi queixas, muito pelo contrário, e vão-me desculpar mas o blog como já era de se esperar tem-me servido de tónico terapêutico. Não me está a cair a casa em cima e verdade seja dita que aqui a drama queen tem como estratégia lamentar-se, lamuriar-se, bater bem no fundo que é para depois saber que a partir daí será sempre a subir... Masoquismo ou não, também eu tenho direito a ter as minhas semanas ou os meus dias, embora estes maus humores não só se estendem ao blog mas a tudo. Prainha de trombas, prainha suspira, prainha vira preguiça, prainha não quer sair de casa...
Numa tentativa de me animar convidei uma amiga para uma sessão de lamúrias... Como era de se esperar Amma tinha uma agenda preenchida até ao próximo mês e o único dia livre terça-feira. Ela acrescentou: - But it is my knitting club day so if you are happy you can come and knit!!! It will be fun! Sorri e calculo que a esta hora esteja a fazer sorrir muitas das minhas leitoras... Oh, a loucura... um clube de tricôt... Lá fui eu encontrar-me com Amma num dos destinos culturais mais populares da cidade. Uma vista sobre o rio, uns sofás confortáveis, lá estava reunido o grupo... misto. Cheguei meia Prainhesca, queixei-me do metro, queixei-me do tempo, do frio, sentei-me.
Amma passou-me as agulhas. Senti-me envergonhada e desculpei-me: - I haven't knitted for years!!! Peguei nas agulhas, pus a lã em volta do pescoço e comecei a tricotar. Fiz a primeira fiada e quando olhei à minha volta tinha o grupo inteiro a olhar para mim. - What? Am I doing something wrong? - exclamei... - No, you are doing absolutely fine... But you do it in a different way... That is VERY interesting!
Lá expliquei que quem me tinha ensinado tinha sido a mãe dum amiga minha e isto já tinha sido há quase 20 anos portanto calculo que a técnica tenha evoluído. Martha deu palminhas de contente. - She knits like in Peru... Oh, amiga, se é como no Peru ou não não faço ideia... eu acho é que é mais granny style, avózinha mesmo. Riram-se!
As horas passaram e à medida que iam passando ia-me sentindo mais calma. Dava aos braços numa ginástica passaresca, as minhas companheiras inconscientemente deram-me espaço para eu me esticar. Martha veio inspecionar o meu trabalho e queixei-me que achava que o meu ponto estava um pouco apertado... - Loosen it up, stretch it and let it loose! As palavras ressoavam-me na cabeça: loosen up, loosen up... Knit, knit, knit... loosen, knit... tornando-se quase uma melodia de acompanhamento rítmico... 9h tocaram e estava exausta.
Confesso que já não me lembrava dos efeitos terapêuticos do tricôt e quem sabe entre viagens e transportes públicos não passe a sacar do meu tricôt para relaxar... loosen up, loosen up... Knit, knit, knit... loosen, knit...
Quando era criança adorava histórias com princípio, meio e de preferência final feliz. Então e depois? E depois? - perguntava eu, e só descansava quando a história acabava e chegava a um final satisfatório. Hoje em dia as minhas histórias preferidas são reais, tem uma ponta de sátira e sarcasmo, baseadas em coisas simples da vida, muitas vezes são apenas ironias do destino ou apelo à nostalgia. Esta ultimamente tornou-se uma das minhas histórias favoritas, ouvi-a dum amigo que por sua vez ouviu-a dum amigo a quem lhe passou. Por graça contarei em inglês, pois também me foi contada nessa língua e na primeira pessoa porque foi assim que o narrador quis contar a história.
When I was on my last year of university, I used to party a lot with my friends. One day I was out and suddenly I felt I was being observed. Someone was looking at me, the girl was brunette and had these amazing hazel eyes. I smiled back.
The next day I saw her passing by on the street, same eyes, same smile. Some days later, same situation, we kept seeing each other at the café, in the library, on the campus, always the same eyes, always the same smile.
One day I took the tube and there she was. I sat next to her and I couldn’t resist. – Hello, my name is Thanos. I’ve noticed you these last 3 weeks!
She smiled back: - Well, I’ve noticed you these past 3 years! Needless to say I was speechless, how could I have not seen her? She had noticed me since we started university, we had one class together, and what do you expect? She was engaged and was about to get married a few months later... Me? I smiled back, we said goodbye and I never saw her ever again. 20 years later and I still remember that…
Hoje foi um daqueles dias... Difíceis! Cansaço do fim-de-semana passado fora num misto de trabalho e de lazer. Isto não serve de desculpa, mas já por isso não começou bem o dia quando o despertador tocou e o corpo resistiu até à última até que a mente foi mais forte e ignorou-o...
Hoje foi um daqueles dias. Difíceis! À medida que ia lendo os emails dos dias anteriores a minha disposição sentia-se a caminho da pasta da reciclagem. E teria sorte se tal e qual pasta de reciclagem também pudesse eliminar os itens para sempre e não poder voltar atrás... Tem a certeza? Tenho, itens esses que só me ocupam espaço, sejam eles dias, disposições, humores, pensamentos, desilusões...
Hoje foi um daqueles dias. Difíceis! Pior não poderia ser quando me chamaram à parte e apesar do discurso de oportunidade, etc, etc... as palavras que ressoavam na minha cabeça eram MANCHESTER! 2 nights per week! Esfreguei os olhos, não, não é sonho. Vou viver metade da semana duma mala, sempre quis ser nómada, mas em Manchester não se é nómada, só triste...
Hoje foi um daqueles dias. Difíceis! O Outono está aí e com ele a minha fase nostálgica e melancólica do ano. Não gosto nada, isto é tipo coceira que me dá comichão e só páro de coçar lá para o Natal em que o desespero já é tanto que já não tenho força para mais e acomodo-me àquela dor fininha...
Hoje foi um daqueles dias... Difíceis! Tive de ir aos correios porque tinha um item que era demasiado grande para caber na ranhura da caixa postal e obrigaram-me a deslocar a tal instituição. 1001 ideias passaram-me pela ideia: amigos que se tivessem lembrado de mim, admiradores secretos que me quiseram surpreender, amores perdidos a desculparem-se... Não, não era apenas 1, mas 8 pacotes, o meu coração bateu mais forte... O carteiro franziu o sobrolho... Abri os pacotes, e não pude deixar de sorrir. Tinha uma carta duma certa marca de cosmética e para quem é leitor habitual deve lembrar-se duma fúria que apanhei por causa dum concurso que tentei concorrer e cujo website no dia da entrega não recebeu a minha candidatura para ser EXPLORADORA do ano. Pediam desculpas por eu não ter sido selecionada. Não era apenas 1 mas 2 produtos da gama, ora isto multiplicado por 8, eram 16 bisnagas. E cheguei a casa e tinha outro papel semelhante, portanto calculo que venham mais umas quantas bisnagas. Isto hoje deve ser obra do Diabo que deve ter multiplicado os meus dados tantas vezes quanto os pacotes... Ou então as vezes que o site deu erro e que me registou como entrada... Ironicamente, quando fiz a reclamação achei que o mínimo que me pudessem fazer era uma 'compensação' em forma de voucher, mas isto não estava à espera... O que fazer com tanto produto igual? Litros e litros de creme de mãos!!! Tenho remessa para muitos meses e meses que se seguem... Patético, simplesmente patético!
Hoje foi um daqueles dias... Difíceis! Se ao menos em vez de me enviarem as bisnagas me tivessem enviado frascos como estes... Tal e qual receita de médico... se calhar o dia difícil teria sido menos difícil...
Algures entre o Chile e a Argentina, mais precisamente entre Puerto Natales e El Calafate. O dia? 26 de Abril de 2008
Luís Sepúlveda escreveu sobre as viagens que foi fazendo pela Patagónia e as diversas personagens que cruzaram o seu caminho. Pequenos encontros, pequenas histórias, que nao precisam de enredo específico nem cenário digno dum filme holliwoodesco, PATAGONIA EXPRESS se chama. Fechei o livro e sorri… Sentei-me na camioneta longe dos meus companheiros com o intuito de dormir para recuperar as horas de sono perdidas pelo madrugar. Cabeça encostada à janela, senti os meus olhos a fechar quando alguém me interrompeu: - Excuse me! Can I sit here? Meia estremunhada, disse que sim. A cara: familiar, julgo que do restaurante do dia anterior. Voltei a fechar os olhos: - Can I check something on your Lonely Planet? Claro, sim, toma. - Hey guys, look at this! com tanta algazarra, logo percebi que dormir seria impossível, pelo menos nas primeiras horas de viagem de regresso à Argentina. À semelhança de Sepúlveda, também eu tenho personagens patagónicas e esta é mais uma das minhas pequenas histórias. Chamava-se Will or William. Irónico o nome de Will, dado que em inglês também pode significar determinação. Apresentou-se, tinha acabado de fazer o ‘W’ onde ratazanas tinham comido e roído metade das provisões – nao seria a primeira nem a última vez que ouviríamos falar de tais animais – ia a caminho de Santiago do Chile para se encontrar com um amigo. – My other friends? Steve & Phil. We just met 3 weeks ago and we decided to do the ‘W’ together. Continuou. Have to say, it was becoming a too much of a male trip. Too many dirty jokes and stinky boys! Sorriu timidamente. – It smells nice! Sorri, referia-se ao meu cabelo molhado – também já não é o primeiro que me diz que cheiro a flores. Viajava desde Janeiro, portanto até Abril façam as contas. Tinha começado na Australia, depois Nova Zelândia. – I am starting university in september, took a year off. I’m 19. you? Are you in your year out? Se eu já os tinha, devo ter perdido os tais 10 anos de vida perante tal pergunta. Não, já acabei. Estudei arquitectura, respondi. – Hey Phil! P. here did architecture. Phil abriu os olhos: - Really? Part 1? Tive de lhes explicar que não só tinha part 1, como parte 2 e 3. – By the time you finish Phil you’ll be almost 30. Ri-me, quase, pensei. Foram 5 horas de conversa em que a diferença de idade nao se fez sentir. – I want to be a geographer! - Well, you seem to be on the right track. Travelling is the best way to learn it!, disse-lhe eu. Contou-me como tudo começou, a sua paixão por viajar, conhecer outras culturas. Um Verão, ainda novo, uns meros 17 anos, resolveu ir fazer um programa de voluntariado para o Quénia. A missão: ensinar inglês a crianças. - I hated the first 5 days! Suddenly I saw these kids really enthusiastic about english and I just felt stupid. They had nothing, I used to go and get water with them 20 miles away. And they just wanted to learn english, so they could follow soccer. After that the best 3 months of my life. Estremeci. Não é todos os dias - se bem que nesta viagem, aconteceu algumas vezes - que nos deparamos com alguém mais novo a dar-nos uma lição de vida, ou pelo menos lembrarmo-nos de outras possibildades. Os olhos, azuis cor de mar profundo, brilhavam... Aquele brilho viu-o algumas vezes em olhos que também um dia deixaram África... olhos de família, olhos de mãe, olhos de alguém que um dia se perdeu por aquele continente. - Africa is... Africa is amazing... Engoli em seco, virei a cara para a janela, deixei-me perder uns segundos para me conter da emoção... a verdade é que África profunda também me corre pelas veias... o cheiro a terra molhada... sons surdos de terra mãe... há qualquer coisa em África que nos faz brilhar os olhos... Parámos no caminho. Comprei-lhe uma garrafa de água, não conseguia trocar os pesos chilenos. - I can pay you in Chilean pesos. - Don't worry, Will! Water sometimes is nothing and all at the same time. To pay me? You just keep on travelling! Com um olhar sorridente, acenou-me e continuou...
Isto é a segunda receita da semana. Mandaram-me este texto aqui há uns dias e dei comigo a relê-lo e relê-lo vezes sem conta. Passo a transcrevê-lo só para contextualizar os que ainda não ainda tiveram a felicidade de o ler. Os outros felizardos que me desculpem, sei que isto é um pouco cliché, roubarmos crónicas de outrem para enchermos o nosso espaço de antena, mas na minha humilde opinião, acho que não podia ser melhor, o sr. falou e está dito... Mas se se acharem já contextualizados com o assunto passemos ao fundo da questão...
O autor deste texto é João Pereira Coutinho, jornalista.
"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida, mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.
Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"
Isto coincidiu com a leitura de um dos livros comprados para esquecer o tempo frio machesteriano. O livro - confesso que lhe franzi o sobrolho - quando vi os comentários de best-seller blá, blá, apelando ao típico público feminino. Mas a minha amiga insistiu: - My friend said it is brilliant. But have you read it yourself? No, but...
Bem o dano também não seria muito grande e aliado a uma promoção leve 3 pague 2 (isto não soa nada bem) posso dizer que foi uma 'bargain'. Bem, mas continuando que eu não quero desrespeitar o Sr. José P. Coutinho e comparando-o a uma escritora tipicamente americana de literatura cor-de-rosa mas já há algum tempo não me sentia presa a um livro. Isto porque há alguns meses que toda a leitura a que me cinjo ou é sobre iluminação de rua ou numa tentativa de aumentar e consolidar a minha cultura geral sobre a História do mundo. Páginas e páginas de conhecimentos e nomes que o meu pequeno cérebro entra em curtas sinapses logo que o olho vislumbra os volumes de sabedoria, tal e qual tomada em curto circuito.
Mas voltando ao livro, é sobre a busca da felicidade por uma mulher que acabou de sair dum processo de divórcio entre muitas outras coisas. Escrito em tom de biografia, ela decide ir 4 meses para a Itália em busca de prazer, facto que descobre num prato de pasta. 4 meses na Índia em busca de Deus, e 4 meses em Bali porque um vidente lhe disse que ela tinha de ir.
Comecei-o na viagem para Manchester e li a primeira parte do livro, ontem deixei a televisão (coisa rara, pois como eu não tenho TV aqui em Londres porque não quero, quando vejo uma não consigo desprender os olhos) li Índia e hoje a caminho de Londres li Bali. Dei comigo a rir, a sorrir e emocionada algumas vezes... Reli passagens para me lembrar mais tarde. Inspirei-me e inspirei. No fundo senti-me feliz por ter dado tão pouco pela minha felicidade. Ás vezes é tão simples, outras vezes... como a Liz conclui é um processo que nos remói as entranhas...
O que é que isto tem a ver com o texto acima? Nada, absolutamente nada. Ela encontrou a felicidade e em nenhuma das coisas que a sociedade nos incita a atingir. Dah!!! Pois, eu sei... Não batam mais na ceguinha mas eu sei disso, nós sabemos disso, vocês também já o sabem. Mas então quando é que vamos todos decidir ser felizes?