21.6.08

STOKEFEST

O calendário confirma que o Verão está aí e embora o tempo se limite a discordar a verdade é que também a mim já me cheira à minha estação preferida. Começou a euforia das esplanadas, das exposições do mundo académico, arraial dos finalistas, os barbecues, os copos depois do trabalho, os piqueniques e os indispensáveis Festivais de Música.

Há 2 semanas fui surpreendida com um dia de Sol e um calor um tanto inesperado ou diria absolutamente desejado para a época. Uma mensagem no telefone a desafiar-me para aproveitar o sol e quando dei por mim estava a caminho dum Festival de Verão. Ainda por cima grátis, pareceu-me o programa ideal duma tarde de domingo. Vesti-me a preceito: uns calções, uma t-shirt e umas sandálias e fui ter com JJ.

Como nós, milhares de pessoas fizeram o mesmo e dei por mim feita ovelha em rebanho a caminho da entrada do parque. JJ ia ter com uns amigos italianos, que por sua vez estavam à espera de outros amigos, italianos, por sinal, à coisa menos coisa de uma hora. Após termo-nos cumprimentado à entrada com a promessa que nos encontraríamos já dentro do recinto, eu e JJ fomos entrando para aproveitar o Sol.

A minha experiência de Festivais de Verão é um tanto ou quanto reduzida, confesso. Quer dizer pensando bem, estive 3 dias passados em Werchter - Bélgica, há uns bons anos, o maior festival da Europa, 60 000 pessoas, chuva a potes durante a estadia inteira, lama por todo o lado, uma tenda super lotada e umas noites sem dormir. Lembrei-me de outro agora, Festival do Meco, outro par de anos, uma noite-manhã passada num nissan micra, 40º graus à sombra e nós a cozinhar em lume brando...

Pois é, perante isto, este Festival foi o luxo dos luxos de conforto. Primeiro porque não implicou grandes deslocações a não ser uma visita a outra parte de Londres que eu não conhecia. Segundo porque poderia voltar às horas que me apetecesse e a música não era realmente o objectivo final deste evento. Aliás de música ouvia-se muito pouco, as tendas montadas para o efeito estavam sobrelotadas e dadas as suas comedidas dimensões o efeito de estufa também não as tornava muito convidativas.

Eu e JJ lá arranjámos um cantinho livre no meio da relva e fomos pondo a conversa em dia depois dos 2 meses de desencontro. Os amigos italianos resolveram dar sinal de vida e revelaram a sua localização; à falta de GPS, uma mera descrição das cores da tenda e a referência do vendedor de balões. Escusado será dizer que a tenda vermelha e amarela nunca a chegámos a encontrar no meio de 4 ou 5 tendas da mesma cor e seguir o vendedor de balões pelo parque inteiro também não nos pareceu uma boa estratégia.

Desistimos da busca: o estômago já dava horas e mais valia concentrarmos as nossas forças numa pesquisa mais frutífera. Seguimos em direcção às banquinhas e as filas eram intermináveis, subimos e descemos com a esperança de encontrarmos a barraquinha menos cheia. Lá nos decidimos pela primeira, comida e bebida vinda directamente do Caribe. A fila, comparada com as outras, irrelevante. JJ ficou a pedir a comida e eu as bebidas.

Passaram 5, 10, 15 minutos, JJ já trazia o peixe com jaca frita e mais uns nomes incompreensíveis e eu continuava à espera das águas. De repente senti-me totalmente naqueles anúncios de TV de Malibu: não sei se se lembram, havia um que era um vendedor de fruta... But I just want to buy a melon, em que depois no fim diziam que se no Caribe toda a gente levasse a vida tão a sério nunca tinham inventado o Malibu?

Ao ritmo do Caribe, entenda-se não o da salsa e merengue, o vendedor atendeu primeiro a família da frente, primeiro os côcos, depois a cana de açúcar, depois a falta de troco, depois as moedas, depois alguém queria banana com o peixe, depois eu pedi, depois não encontrou côcos bons, depois resolveu mascar cana de açúcar, depois limpou o suor... But sir, I just want to buy 2 coconuts... depois lá cortou e eu finalmente paguei para seguirmos de volta ao nosso lugar. Claro está que a aventura não acabou aqui, entusiasmei-me tanto com o sol, que achei que em Londres poderia viver o sonho tropical com direito a àgua de côco, erro crasso, nunca teria dado certo.

Imaginem a cena: JJ na frente com os pratos de comida um em cada mão. Eu mais atrás a tentar balançar os côcos, o que começou por um em cada mão, com o peso passou a um em cada braço e mais um bocadinho já era eu agarrada aos dois côcos. Nisto, toda eu já era água de côco. Claro está, que as probabilidades de passar despercebida foram nulas e nisto dá-me um ataque de riso à conta desta cena macaca. Quando dou por mim tinha virado o macaquinho de entretenimento do Festival, até fotos me tiraram e JJ a quilómetros luz, já para não falar dos comentários afins. E como não faltava, devo ter sido tão convincente que também eu acabei por protagonizar uma campanha publicitária grátis para a barraca do Caribe.

A verdade é que depois desta aventura quando cheguei a casa também eu me senti vinda de férias, não sei se foi do côco, se da experiência do caribe, também eu concordei que se esta gente levasse a vida tão a sério teria ficado a perder muito mais do que o Malibu...





15.6.08

FERNÃO DE MAGALHÃES 2


Terra de ninguém - fronteira argentina


Terra de ninguém II, algures entre a Argentina e o Chile


Chile


Estreito de Magalhães


Estreito de Magalhães



14.6.08

FERNÃO DE MAGALHÃES

Alvorada chegou e de malas aviadas deixámos o hostal para trás. Uma noite meio atribulada devido ao calor infernal que se fazia sentir no quarto, um canadiano que ressonava desafiando as leis da paz nocturna e três pares de olhos que se recusavam a fechar: Prainha, Té e Yoni.
Deixámos Ushuaia para trás às 4h da manhã a caminho de Rio Grande...



O começo duma viagem, de um percurso que se avistava cheio de histórias, de emoções, de sensações... De certa forma, eles tinham razão...

O nascer do sol antevia um dia perfeito, ao mesmo tempo que revelava uma paisagem árida de cores constantes entre os tons terra e o céu azul... Os meus olhos fechavam de vez em quando para voltarem a abrir e encontrar a mesma vastidão.
Paragem na fronteira argentina para atravessar a terra de ninguém, a imagem total do fim do mundo, do isolamento da Terra do Fogo. Senti-me invadida por essa mesma solidão e a minha mente parece que disparou e perdeu-se... Voltei a encontrar-me já no Chile junto ao Estreito de Magalhães...

'Esperamos un rato por el barco!' - disse-nos o condutor...
O rato virou ratazana e percebemos que não fazia sentido ficarmos dentro do autocarro. Resolvi ir explorar o Estreito de Magalhães ou a vista dele, sentir parte da História a que nos habituámos a ler em livros escolares, de imagens de naus e caravelas, professores entusiastas proclamando as glórias nacionais, Fernão de Magalhães entre tantos outros heróis... o que nunca nos contaram é que parece Fernão não se encontrava ao serviço da nossa coroa, aliás por estas bandas poucos sabem que ele era português...

Do estreito pouco há a dizer aparte do peso da história e do nome que nos remete para outros tempos. Um estreito que mais parece um mar agitado. Uma imensidão de água que me fez sentir pequenina e um vento que quase me fez voar. Estreito, metáfora da escala patagónica onde tudo atinge proporções gigantescas e onde nos coloca na nossa condição de mero mortal.

Depois de desafiar o vento magallino dirigimo-nos para o único café do estreito - um barracão no meio do nada e duma fila de automóveis e camiões que se aglomeravam esperando o mesmo - para encontrarmos o condutor saboreando o seu almoço na maior das calmas. Intrigados fomos perguntar quanto tempo tínhamos mais. Respondeu-nos no mesmo ritmo: - Unas 4 o 5 horas! El barco non he partido, hace mucho viento. Esperamos el viento parar!

Pouco havia a fazer, sentámo-nos a contemplar a paisagem e os outros passageiros que entravam e saíam do café dirigindo-se ao autocarro. Deparei-me com uma cara familiar, lembrava-me dele do nosso hostal. Tínhamos trocado sorrisos o dia anterior. Tentei chamá-lo, mas Té teve mais sorte e perguntou-lhe se não se queria juntar a nós. Tímido, sorriu e desculpou-se... Queria aproveitar o vento! Entre nós, encolhemos os ombros e pensei quantas horas iria ele aguentar o vento?!

Estava certa, passados uns minutos voltou e sentou-se. Chamava-se René, era suíço e viajava desde Novembro. Era para ter regressado após 4 meses mas foi adiando para regressar para o Euro, achava ele, entretanto tinha marcado a viagem nos últimos dias para Julho, quando a mãe chamou a atenção que isso era o final do euro e não o começo. Não haveria muito a fazer, a viagem já não poderia ser alterada mais nenhuma vez, portanto havia que aproveitar...

Dos portugueses, conhecia poucos mas gostava deles. O último encontro tinha sido no Chile. Tinha conhecido a Nelly Furtado. 'So pretty! Very nice! See? What do you think?' orgulhoso mostrava-nos a foto com ele e uma Nelly loura. Sorri: - Yes, René you are pretty too... Tímido, corou e riu-se elogiando a nossa compatriota.

O barco finalmente aproximava-se... As ondas impunham respeitando levantando-se à altura do navio e a nós não nos foi permitido sair do autocarro. O percurso durou 30 minutos e depois de mais umas horas de caminho estaríamos em Puerto Natales. René dirigia-se para o mesmo lugar, tínhamos feito mais um amigo de viagem e companheiro de quarto...

7.6.08

PORTUGAL



PORTUGAAAAAAAAAALLLLLLLLLL!!!

Dia há muito esperado, para quem não ou nunca foi emigrante nem sabe como estes dias tornam-se absolutamente imperdíveis. Gritar pela nossa bandeira, ouvir expressões de emoção às quais náo estávamos habituados, sorrir quando vemos alguém com um cachecol familiar...
Também eu me preparei, não tenho cachecol mas achei que o meu dia devia começar bem português e fui ao 'Lisboa' comer um pastel de nata. Como seria de esperar parecia que o Sr. Augusto tinha plantado a bananeira, digo a bandadeira de Portugal, pois via-se o símbolo de Portugal por todo o lado.
- Ó Sr. Augusto, não me arranja aí uma bandeirinha também para o jogo de hoje à noite!
- Arranjo, sim senhora. Bandeirinha com pauzinho ou sem pauzinho?
Ri-me, - Com pauzinho, sr. Augusto...
- Ora aí está, menina!
- Sr. Augusto, olhe que com este pauzinho isto não me cabe na mala?! - A esta altura já todos se riam.
- Então se é para levar na mala, já te arranjo aqui outra. - E foi um revirar de loja, procura ali, busca acolá. Triunfante, trouxe a dita bandeira. Tirou-a do saquinho, enrolou-a para eu prender na mala e acrescentou. - Até é mais barata e tudo! Ora bem, são...

Sorriso nos lábios, saí. Agora com a dita bandeira isto seria tudo diferente. Agora sim, verdadeira portuguesa...







6.6.08

FUEGO
















"Bastardos!"





Lago Fagnano



Lago Fagnano


Canoagem no Lago Escondido


4x4


Lago Escondido


Sebastian II

5.6.08

TIERRA DEL FUEGO

22 de Abril de 2008

Se houvesse uma razão para ficar no fim do mundo essa poderia chamar-se Sébastian. É verdade que os Argentinos sempre tiveram fama, mas daí até ser confrontada com as evidências é outra história: alto, bem parecido, desportista, falador (característica tipicamente argentina, adoram ouvir-se), charmoso, cativante, assim se apresentou o nosso guia / condutor.

Antecipando um bater de pestanas por parte do mulherio tratou logo de esclarecer o seu estado civil de comprometido e os dois rebentos lá de casa: um com 18 meses e outro com 11 meses. Antes que alguém dissesse algo, deu uma gargalhada, sorriso maroto e confessou: " - Adoro ver a reacção das pessoas a puxar pela matemática, tentando perceber como é possível tal pouca diferença de idade, bem na verdade, os meus rebentos são mais do tipo canídeo!"

Não estávamos realmente preparadas para tal encontro, muito menos para a aventura que se seguia: explorar a Terra do Fogo num Todo-o-Terreno. Como podem imaginar não éramos os únicos com o Sébastian, do grupo constavam uma italiana, Giovanna, sua amiga Irene, argentina; Christine, francesa com o seu Mohammed, marroquino. E não fosse a nossa presença e arriscaria a dizer que a média das idades rondaria os 45 anos. Oficialmente júniores em tal expedição fomos promovidos à brigada do fundo na ré do jipe, definitivamente o local mais emocionante desta viagem, quer dizer, tirando o lugar da Giovanna junto ao condutor...

Em busca do Lago Escondido demos início à subida da montanha. Ora bem, montanha equivaleu a neve também e em pleno Outono deparámo-nos com uma paisagem mais parecida com um Natal branco, ou o que eu imagino que seja. Vimos o nosso Sébastian em plena acção de Indiana Jones socorrendo um carro preso na neve por falta de correntes e ainda tivémos oportunidade para uma batalha campal de bolas de neve. E dar-nos-iam mais tempo e até um boneco teríamos arriscado fazer, mas esperava-nos outra aventura - canoagem.

Aqui entre nós, já lá vão os tempos em que experimentei canoagem, confesso que na altura as memórias limitaram-se a círculos em redor da canoa, sem sair quase do mesmo lugar e acho que lá mais para o fim, um empurrão dum engraçadinho e um mergulho no lago. Desta vez pelo menos as canoas eram para dois portanto maior facilidade em manejar e a mim coube-me o papel de capitã e manobradora do leme. Juntámo-nos a outro grupo de espanhóis e um casal de brasileiros. Passadas as explicações e já dentro de água, ouvimos Walter, o outro guia: - Hey, Brasil! Esto non es Venezia, non. Tienen de remar! Ao longe ele esforçava-se por manter o ritmo da canoa tal e qual gondoleiro apaixonado, ela completamente relaxada limitou-se a encolher os ombros e a sorrir timidamente enfatizando as suas expressões de japonesa. De volta à margem, recolhemos a canoa e encaixados no 4x4 lá fomos à segunda actividade do triatlo fueguino.

Reza a história que o nome desta terra foi o nosso compatriota Magalhães que pôs aquando da sua descoberta do estreito. Chamou-lhe inicialmente terra do fumo, pois ao longe viam-se as queimadas que os nativos faziam para suportar as temperaturas baixas da altura, mas como não há fumo sem fogo, Terra do Fogo ficou. O que é certo é que se não soubesse disto, acharia que o nome advém das cores desta paisagem, perfeita metáfora para esta estação do ano.

Continuando a viagem, embrenhámo-nos pela floresta onde vimos árvores tombadas pelos castores, animais estes introduzidos no ecossistema há algumas dezenas de anos e que têm testado até ao limite o equilíbrio ecológico desta área. Tal é a destruição que quando Sébastian entusiasmado nos mostrou um castor, de Giovanna só ouvimos um "BASTARDO!!!" Afugentámos o bicho, mas parece que à hora que o vimos também não é muito normal "passearem" pois só saem de noite.

Num 4x4 podem imaginar que desafiámos as leis da natureza, entre lama, árvores, terrenos movediços, lago, experimentámos tudo, Sébastian não se cansou enquanto não demonstrou todas as proezas do seu "brinquedo". A Brigada do fundo em posição (apesar de ter pouca memória do assento, acho que passei mais tempo fora que dentro do banco) achou divertido e recomenda a aventura.

Claro que triatlo significa três, a última aventura resumiu-se a dar cabo dum monte de carne em três tempos antes que o resto dos grupos chegassem. Levaram-nos a uma fazenda em plena paisagem fueguina onde também se fazem criação de cães da Antárctica para aventuras de trenó. A neve realemente não era suficiente para tal experiência mas pelo menos fomos cumprimentar os cães. Maiores que eu, à excepção dos mais cachorrinhos, senti-me tal e qual criança pequena atrás da cachorrada. "Giovanna viene aquí, el perro quiere bailar contigo y Irene puede te sacar la foto!" Sébastian demonstrava como os cães eram grandes, quase atingindo a sua estatura. "Giovanna, el perro, non yo!" Italiana não se faz rogada, o rapaz a mostrar-lhe o cão e ela agarrada ao braço do Sébastian: " ' Irene, saca la foto. Con Sébastian, claro!" E esta, hein?

Voltámos ao nosso hostal e eu fui-me despedir dos nossos mais recentes amigos. Eram as nossas últimas horas de Ushuaia dado que partiríamos pela madrugada. Contei as aventuras do dia e planos até que Gregg fixou-me o olhar, franziu o sobrolho: - Will you keep going like this? Such intense holiday? You'll need holidays after this!" Limitei-me a dar uma gargalhada, nem ele sabe da missa a metade...







1.6.08

100

Felicitações ao privilegiado leitor (a) por ter lido o 100º post deste blog.
Terá a direito a um voucher de promoção para os próximos 100 posts a ser redimido até data a confirmar.
Dar-lhe-á direito ao nosso vantajoso "Comente Um, Leia Dois" e ao nosso famoso sorteio onde ser-lhe-á dedicado um post do Histórias.
A todos obrigada a participação.
A gerência

Prainha