STOKEFEST
Há 2 semanas fui surpreendida com um dia de Sol e um calor um tanto inesperado ou diria absolutamente desejado para a época. Uma mensagem no telefone a desafiar-me para aproveitar o sol e quando dei por mim estava a caminho dum Festival de Verão. Ainda por cima grátis, pareceu-me o programa ideal duma tarde de domingo. Vesti-me a preceito: uns calções, uma t-shirt e umas sandálias e fui ter com JJ.
Como nós, milhares de pessoas fizeram o mesmo e dei por mim feita ovelha em rebanho a caminho da entrada do parque. JJ ia ter com uns amigos italianos, que por sua vez estavam à espera de outros amigos, italianos, por sinal, à coisa menos coisa de uma hora. Após termo-nos cumprimentado à entrada com a promessa que nos encontraríamos já dentro do recinto, eu e JJ fomos entrando para aproveitar o Sol.
A minha experiência de Festivais de Verão é um tanto ou quanto reduzida, confesso. Quer dizer pensando bem, estive 3 dias passados em Werchter - Bélgica, há uns bons anos, o maior festival da Europa, 60 000 pessoas, chuva a potes durante a estadia inteira, lama por todo o lado, uma tenda super lotada e umas noites sem dormir. Lembrei-me de outro agora, Festival do Meco, outro par de anos, uma noite-manhã passada num nissan micra, 40º graus à sombra e nós a cozinhar em lume brando...
Pois é, perante isto, este Festival foi o luxo dos luxos de conforto. Primeiro porque não implicou grandes deslocações a não ser uma visita a outra parte de Londres que eu não conhecia. Segundo porque poderia voltar às horas que me apetecesse e a música não era realmente o objectivo final deste evento. Aliás de música ouvia-se muito pouco, as tendas montadas para o efeito estavam sobrelotadas e dadas as suas comedidas dimensões o efeito de estufa também não as tornava muito convidativas.
Eu e JJ lá arranjámos um cantinho livre no meio da relva e fomos pondo a conversa em dia depois dos 2 meses de desencontro. Os amigos italianos resolveram dar sinal de vida e revelaram a sua localização; à falta de GPS, uma mera descrição das cores da tenda e a referência do vendedor de balões. Escusado será dizer que a tenda vermelha e amarela nunca a chegámos a encontrar no meio de 4 ou 5 tendas da mesma cor e seguir o vendedor de balões pelo parque inteiro também não nos pareceu uma boa estratégia.
Desistimos da busca: o estômago já dava horas e mais valia concentrarmos as nossas forças numa pesquisa mais frutífera. Seguimos em direcção às banquinhas e as filas eram intermináveis, subimos e descemos com a esperança de encontrarmos a barraquinha menos cheia. Lá nos decidimos pela primeira, comida e bebida vinda directamente do Caribe. A fila, comparada com as outras, irrelevante. JJ ficou a pedir a comida e eu as bebidas.
Passaram 5, 10, 15 minutos, JJ já trazia o peixe com jaca frita e mais uns nomes incompreensíveis e eu continuava à espera das águas. De repente senti-me totalmente naqueles anúncios de TV de Malibu: não sei se se lembram, havia um que era um vendedor de fruta... But I just want to buy a melon, em que depois no fim diziam que se no Caribe toda a gente levasse a vida tão a sério nunca tinham inventado o Malibu?
Ao ritmo do Caribe, entenda-se não o da salsa e merengue, o vendedor atendeu primeiro a família da frente, primeiro os côcos, depois a cana de açúcar, depois a falta de troco, depois as moedas, depois alguém queria banana com o peixe, depois eu pedi, depois não encontrou côcos bons, depois resolveu mascar cana de açúcar, depois limpou o suor... But sir, I just want to buy 2 coconuts... depois lá cortou e eu finalmente paguei para seguirmos de volta ao nosso lugar. Claro está que a aventura não acabou aqui, entusiasmei-me tanto com o sol, que achei que em Londres poderia viver o sonho tropical com direito a àgua de côco, erro crasso, nunca teria dado certo.
Imaginem a cena: JJ na frente com os pratos de comida um em cada mão. Eu mais atrás a tentar balançar os côcos, o que começou por um em cada mão, com o peso passou a um em cada braço e mais um bocadinho já era eu agarrada aos dois côcos. Nisto, toda eu já era água de côco. Claro está, que as probabilidades de passar despercebida foram nulas e nisto dá-me um ataque de riso à conta desta cena macaca. Quando dou por mim tinha virado o macaquinho de entretenimento do Festival, até fotos me tiraram e JJ a quilómetros luz, já para não falar dos comentários afins. E como não faltava, devo ter sido tão convincente que também eu acabei por protagonizar uma campanha publicitária grátis para a barraca do Caribe.
A verdade é que depois desta aventura quando cheguei a casa também eu me senti vinda de férias, não sei se foi do côco, se da experiência do caribe, também eu concordei que se esta gente levasse a vida tão a sério teria ficado a perder muito mais do que o Malibu...