29.1.10

SUCH A PERFECT DAY, I´M GLAD I SPENT IT WITH YOU

Mais uma vez deparo-me com dificuldade em escrever sobre este dia. Desconfio que ando a contribuir para as estatísticas das ameaças dos ataques de coração, nomeadamente perante os meus leitores quando de repente lembram-se de ir ao histórias e até sentem o coração palpitar com esperança de encontrar novo post... Bem, enfim, desculpas à parte, é verdade que me lembro sempre deste dia, principalmente nos momentos em que me sinto mais nostálgica...

Lembro-me de várias coisas: de subir o morro e ver as plantações de palma no horizonte, através da desvastação da selva virgem mas sustento de muitas famílias, de nos terem levado a umas grutas onde enterravam os mortos há milhares de anos e do sabor amargo do fruto da palma. Lembro-me de termos andado a passear pela dita vila e de nos prometerem que nos iriam levar a pescar com as redes tradicionais no rio, apesar do calor...

O Calor, sim, desse, lembro-me muito bem... aliás um calor abafado, que nos deixou completamente letárgicos, a mim e ao David, principalmente depois de almoço. Isto é o que devem chamar de sentir-me como uma lontra, no sentido mais literal da expressão... Deitados em frente à ventoinha, mal falávamos...

Sei que às páginas tantas David não aguentou e levantou-se...
Right! That´s it! I can´t stand it anymore!!! I´m going to swim in the river! Baixei os olhos... - Yes, I think you should go. I can´t, I just have bikinis... I don´t think the locals will appreciate... Sorri.

David começou a revirar a mochila e de repente os olhos azuis brilharam. Tinha a solução para o problema:
- Here I have some extra swimming shorts!!! Just wear a t-shirt on the top! David, o Salvador da Pátria... Aprontei-me a vestir os calções de banho, davam-me um ar de criança: os calções quase a cair, uma t-shirt meio farrusca, chinelos de meter no dedo e não fosse a minha cor denunciadora quase passava por uma local... Bem, pensei, isto é que é o literal vestir as calças do homem.

Corremos os dois para o rio... O David fez uma bomba e assustou a bicharada toda. Eu fui a seguir...
A corrente arrastava-nos com força, a água era lamacenta, ainda hoje comparo-o ao Rio Amazonas. Aliás a paisagem era em muito semelhante ao afamado Pantanal brasileiro... até crocodilos tinha, mas esses não os vimos... e provavelmente piranhas e sanguessugas... Apesar disto tudo, a sensação é que nunca me tinha sabido tão bem estar dentro de água.

Ouvimos gargalhadas e gritos de crianças: a Mirna e dois amigos vinham-se juntar a nós... Uma algazarra: fizémos as delícias dos miúdos, apoiavam-se em nós por sermos grandes, pois eles não tinham pé, faziam bombas, mergulhavam, chapinhavam nas margens...

Eu e David cansados arrastámo-nos até às margens lamacentas do rio. Espreguiçámo-nos um ao lado do outro a apanhar sol. Mirna veio com Manik e as duas enterraram-me na lama. Fiquei só com a cabeça e as mãos de fora. Sentia o sol bastante forte na minha cara mas naquele preciso momento tive um momento apocalíptico...

Senti-me feliz como já não me sentia há muito... A simplicidade fez-me engolir em seco... Como é que estas crianças eram das mais felizes que eu tinha conhecido até então, sem terem brinquedos, viverem o mais humildemente possível, isolados (q.b.) do mundo, mas com uma energia tão genuína e tão criança...

A felicidade era isto... Eu poder rir-me enfiada na lama até ao pescoço, junto de estranhos mas que tinham cuidado de mim sem cobranças...
Eu, aqui do outro lado do mundo, isolada de tudo e de todos... Aliás ninguém imaginava onde estava, nem eu sabia geograficamente onde isso podia ficar... Mas naquele instantâneo não tinha importância...

Eu sentia-me livre. Mas uma liberdade que ainda hoje não consigo descrever... Sentia-me ´liberated´, que não é bem o sentir-se ´free´, se é que me entendem...

Desprovi-me de tudo... É isso... foi assim que me senti... deixei para trás tudo e renasci da lama...
Deixei as minhas dúvidas, os meus medos, os meus complexos... deixei de pensar no trabalho, no futuro, nas relações, na família, nos meus planos...

Basicamente desprovi-me de expectativas... houve quem dissesse que a felicidade depende da nossa gestão de expectativas, é possível que tenha razão... Eu parecia que tinha desligado algures um botão e apenas me concentrado nas coisas simples...

Não interessava quem eu era, como era, o que vestia, ali era apenas eu nos calções do David. Mas talvez ali era eu em verdadeira sintonia com a natureza e paz comigo própria. Sentia-me peixe na água ou seria crocodilo na lama...

Olhei para o David e não me pude conter... - This is such a perfect day, I´m glad I spent it with you! Sorriu de volta.

Fechei os olhos, como quem tenta agarrar um momento tão precioso e único da vida...

14.1.10

APOLOGIES

Dou-vos toda a razão, esta espera é completamente inadmissível, mas a verdade é que para os meus posts serem escritos desta maneira eles exigem-me um estado emocional interior que me permite ser engraçada ou mais introspectiva... Às vezes penso: em que estilo escrevo eu?... Não cheguei a conclusão nenhuma, é um bocadinho de tudo, a galera brasileira acha que eu escrevo à Eça de Queirós (esta deu-me para rir), isto porque uso ´tanta palavra difícil, meio arcaico, mesmo´, outros estilo imprensa cor-de-rosa, ou então aos milhares de blogs femininos que andam por aí, ou seja sou sem género literário.
No fundo gostava de ser estilo prainha, ou não fosse eu uma amálgama de muita coisa, mas enquanto não me decido o que sou, aqui vai a promessa de mais um post...