SUCH A PERFECT DAY, I´M GLAD I SPENT IT WITH YOU
Mais uma vez deparo-me com dificuldade em escrever sobre este dia. Desconfio que ando a contribuir para as estatísticas das ameaças dos ataques de coração, nomeadamente perante os meus leitores quando de repente lembram-se de ir ao histórias e até sentem o coração palpitar com esperança de encontrar novo post... Bem, enfim, desculpas à parte, é verdade que me lembro sempre deste dia, principalmente nos momentos em que me sinto mais nostálgica...
Lembro-me de várias coisas: de subir o morro e ver as plantações de palma no horizonte, através da desvastação da selva virgem mas sustento de muitas famílias, de nos terem levado a umas grutas onde enterravam os mortos há milhares de anos e do sabor amargo do fruto da palma. Lembro-me de termos andado a passear pela dita vila e de nos prometerem que nos iriam levar a pescar com as redes tradicionais no rio, apesar do calor...
O Calor, sim, desse, lembro-me muito bem... aliás um calor abafado, que nos deixou completamente letárgicos, a mim e ao David, principalmente depois de almoço. Isto é o que devem chamar de sentir-me como uma lontra, no sentido mais literal da expressão... Deitados em frente à ventoinha, mal falávamos...
Sei que às páginas tantas David não aguentou e levantou-se... Right! That´s it! I can´t stand it anymore!!! I´m going to swim in the river! Baixei os olhos... - Yes, I think you should go. I can´t, I just have bikinis... I don´t think the locals will appreciate... Sorri.
David começou a revirar a mochila e de repente os olhos azuis brilharam. Tinha a solução para o problema: - Here I have some extra swimming shorts!!! Just wear a t-shirt on the top! David, o Salvador da Pátria... Aprontei-me a vestir os calções de banho, davam-me um ar de criança: os calções quase a cair, uma t-shirt meio farrusca, chinelos de meter no dedo e não fosse a minha cor denunciadora quase passava por uma local... Bem, pensei, isto é que é o literal vestir as calças do homem.
Corremos os dois para o rio... O David fez uma bomba e assustou a bicharada toda. Eu fui a seguir...
A corrente arrastava-nos com força, a água era lamacenta, ainda hoje comparo-o ao Rio Amazonas. Aliás a paisagem era em muito semelhante ao afamado Pantanal brasileiro... até crocodilos tinha, mas esses não os vimos... e provavelmente piranhas e sanguessugas... Apesar disto tudo, a sensação é que nunca me tinha sabido tão bem estar dentro de água.
Ouvimos gargalhadas e gritos de crianças: a Mirna e dois amigos vinham-se juntar a nós... Uma algazarra: fizémos as delícias dos miúdos, apoiavam-se em nós por sermos grandes, pois eles não tinham pé, faziam bombas, mergulhavam, chapinhavam nas margens...
A felicidade era isto... Eu poder rir-me enfiada na lama até ao pescoço, junto de estranhos mas que tinham cuidado de mim sem cobranças...
Lembro-me de várias coisas: de subir o morro e ver as plantações de palma no horizonte, através da desvastação da selva virgem mas sustento de muitas famílias, de nos terem levado a umas grutas onde enterravam os mortos há milhares de anos e do sabor amargo do fruto da palma. Lembro-me de termos andado a passear pela dita vila e de nos prometerem que nos iriam levar a pescar com as redes tradicionais no rio, apesar do calor...
O Calor, sim, desse, lembro-me muito bem... aliás um calor abafado, que nos deixou completamente letárgicos, a mim e ao David, principalmente depois de almoço. Isto é o que devem chamar de sentir-me como uma lontra, no sentido mais literal da expressão... Deitados em frente à ventoinha, mal falávamos...
Sei que às páginas tantas David não aguentou e levantou-se... Right! That´s it! I can´t stand it anymore!!! I´m going to swim in the river! Baixei os olhos... - Yes, I think you should go. I can´t, I just have bikinis... I don´t think the locals will appreciate... Sorri.
David começou a revirar a mochila e de repente os olhos azuis brilharam. Tinha a solução para o problema: - Here I have some extra swimming shorts!!! Just wear a t-shirt on the top! David, o Salvador da Pátria... Aprontei-me a vestir os calções de banho, davam-me um ar de criança: os calções quase a cair, uma t-shirt meio farrusca, chinelos de meter no dedo e não fosse a minha cor denunciadora quase passava por uma local... Bem, pensei, isto é que é o literal vestir as calças do homem.
Corremos os dois para o rio... O David fez uma bomba e assustou a bicharada toda. Eu fui a seguir...
A corrente arrastava-nos com força, a água era lamacenta, ainda hoje comparo-o ao Rio Amazonas. Aliás a paisagem era em muito semelhante ao afamado Pantanal brasileiro... até crocodilos tinha, mas esses não os vimos... e provavelmente piranhas e sanguessugas... Apesar disto tudo, a sensação é que nunca me tinha sabido tão bem estar dentro de água.
Ouvimos gargalhadas e gritos de crianças: a Mirna e dois amigos vinham-se juntar a nós... Uma algazarra: fizémos as delícias dos miúdos, apoiavam-se em nós por sermos grandes, pois eles não tinham pé, faziam bombas, mergulhavam, chapinhavam nas margens...
Eu e David cansados arrastámo-nos até às margens lamacentas do rio. Espreguiçámo-nos um ao lado do outro a apanhar sol. Mirna veio com Manik e as duas enterraram-me na lama. Fiquei só com a cabeça e as mãos de fora. Sentia o sol bastante forte na minha cara mas naquele preciso momento tive um momento apocalíptico...
Senti-me feliz como já não me sentia há muito... A simplicidade fez-me engolir em seco... Como é que estas crianças eram das mais felizes que eu tinha conhecido até então, sem terem brinquedos, viverem o mais humildemente possível, isolados (q.b.) do mundo, mas com uma energia tão genuína e tão criança...
A felicidade era isto... Eu poder rir-me enfiada na lama até ao pescoço, junto de estranhos mas que tinham cuidado de mim sem cobranças...
Eu, aqui do outro lado do mundo, isolada de tudo e de todos... Aliás ninguém imaginava onde estava, nem eu sabia geograficamente onde isso podia ficar... Mas naquele instantâneo não tinha importância...
Eu sentia-me livre. Mas uma liberdade que ainda hoje não consigo descrever... Sentia-me ´liberated´, que não é bem o sentir-se ´free´, se é que me entendem...
Desprovi-me de tudo... É isso... foi assim que me senti... deixei para trás tudo e renasci da lama...
Deixei as minhas dúvidas, os meus medos, os meus complexos... deixei de pensar no trabalho, no futuro, nas relações, na família, nos meus planos...
Basicamente desprovi-me de expectativas... houve quem dissesse que a felicidade depende da nossa gestão de expectativas, é possível que tenha razão... Eu parecia que tinha desligado algures um botão e apenas me concentrado nas coisas simples...
Não interessava quem eu era, como era, o que vestia, ali era apenas eu nos calções do David. Mas talvez ali era eu em verdadeira sintonia com a natureza e paz comigo própria. Sentia-me peixe na água ou seria crocodilo na lama...
Olhei para o David e não me pude conter... - This is such a perfect day, I´m glad I spent it with you! Sorriu de volta.
Fechei os olhos, como quem tenta agarrar um momento tão precioso e único da vida...
1 Comments:
Prainha, tenho uma lagrimita no olho. Obrigada por partilhares, realmente acho que é a isto que almejo.
Beijinhos.
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