10.10.11

EDINBURGH - THE REBEL

Edimburgo, o renascer da fénix, dormir e dormir que nem uma lontra. Quer dizer pelo menos era isso que queria ter feito mas com 20ºC à noite e lua cheia, impossível ficar em casa. A minha primeira cidade sozinha, sem contacto humano, pelo menos familiar, por assim dizer. Seria apenas a primeira de muitas cidades em que estou por minha conta.

Felizmente, já conhecia a cidade, portanto não houve choque nem dilemas emocionais. Daqui, tenho a reter o meu episódio de bom rebelde que teve lugar num autocarro. Primeiro dia em que cheguei, levei horas e horas a sair do hotel. Quando finalmente decidi sair, meti-me num autocarro e 15 minutos de percurso, encontro-me 15 minutos parada sem sair do lugar. Intrigada observo os outros passageiros.

Um senhor aproxima-se do condutor, explica-lhe que tem um casamento e que já está atrasado. Não é que o senhor esteja vestido para um casamento, mas ele acrescenta, sou o padre! O condutor murmura qualquer coisa, desculpa-se que não tem autorização para abrir a porta e fica impávido e sereno... A verdade é que os santinhos ajudaram e o homem de consciência pesada, abre a porta num ápice e pede a benção. O padre sai, mas a mim é-me barrada a saída.

A seguir um casal aproxima-se e faz o mesmo pedido, desta vez, um comboio para apanhar. O homem volta a estrebuchar e diz que não pode abrir a porta. Uns minutos depois, mostra ao casal um bloco de notas. A mulher sorri para o marido e pressiona o botão de emergência para sair, enquanto o condutor berra a dizer que não tem nada a ver com isso, que eles é que quiseram sair.

Confesso que a esta altura começo a ferver em lume brando, isto é o disparate do politicamente correcto britânico, a falta de senso comum e a mediocridade tudo junto. Nisto já tinha passado mais de meia hora no MESMO sítio.

Fiz a minha pergunta inocente, se podia sair, uma vez que estávamos há imenso tempo parados e que isto era concerteza uma excepção portanto ele podia-nos deixar sair. Para quem tinha pedido a benção há pouco tempo, o homem parecia que tinha visto o diabo. Ao que eu acrescento mais lume à fogueira: começo a perguntar se me sentir mal, ele tem de abrir a porta ou vai-me deixar desmaiar ali em pleno autocarro? O homem hesitou por um momento, mas não se deixou vencer. Ao que eu nem olho duas vezes, carrego no botão de emergência de saída para grande espanto do autocarro inteiro!

LONDON - THE STRESSED

Londres é sempre bom, para não dizer excelente. São os amigos, é a familiaridade da cidade, são as saudades, é o burburinho, é casa. Não tivesse sido o stress e tentar organizar os últimos detalhes para os 3 meses que se seguiam, e teria sido perfeito. Para além dos episódios caricatos e constantes leis de Murphy, desde comprar o cartão SIM errado, deveria ter sido um MICROSIM (sou novata nestas coisa, que querem?); regressar à loja a pensar que tinha comprado o adaptador de tomada errado, para fazer papel de otária quando me disseram que o resto das peças encontravam-se na caixa e que tinha de abrir o resto do pacote; ou assegurarem-me que ao fim de 6 semanas aprenderia a trabalhar com a máquina fotográfica, quando na realidade tinha apenas 6 horas. Enfim, estas e muitas mais, fora os 3000 sítios que quis ver e rever em 2 dias esgotaram-me e eu ainda mal tinha começado a viagem.

EINDHOVEN - THE CELEBRITY

Eindhoven: foi aí que tudo começou e foi aí que me senti pela primeira vez, uma (quase) celebridade. Fui famosa por 1 dia, pediram-me fotografias e eu timidamente acedi, acho que no fundo, porque quis fazer o meu papel de estrela simpática. Tive os meus minutos de fama, mas por mim ficamos por aí: desconfio que gosto mais da vida anónima!

9.10.11

THE START

Já vou a um terço da viagem. Ainda no outro dia estabelecia o meu próprio recorde de empacotamento duma mala para 3 meses, e já vou no meu terceiro, quase quarto continente. E ainda no outro dia estava a caminho da Malásia, na viagem épica completamente sozinha e agora aqui estou eu, 2 anos depois a fazer outra viagem épica, uma vez mais, não acompanhada. Duas viagens bem diferentes, é verdade, se a primeira foi um desafio pessoal e emocional, esta é um desafio profissional e de resistência. Se na viagem épica nº 1 tudo era incerto, nesta o percurso está definido e dada a sua intensidade – já disse que vou quase no meu 4º continente em 5 semanas? - mal dou conta que ando sozinha. E claro, a grande distinção entre as duas, é que na viagem épica nº2 tenho um objectivo muito definido enquanto na primeira, não havia nenhum, para além de viajar e claro, de voltar inteira. Ainda me recordo da primeira vez que embarquei que achei que não conseguiria chegar ao fim... Engraçado, como a vida no surpreende!

Este discurso todo para vos dizer que é com o maior prazer que renasço, não será propriamente das cinzas, mas volto à vida. Não é que alguma vez a tenha deixado, muito pelo contrário, talvez por a ter vivido demais, achei que seria hora de voltar a partilhar... Olhando para trás, acho que já não vou a tempo de descrever 5 semanas de viagem, mas o que posso fazer é rever os momentos altos (e baixos) do que se passou até agora.

(RE)BORN TO BE WILD

Recomeçar é sempre difícil, há sempre um momento de incerteza, de dúvida, de insegurança que nos faz ver e rever 1001 vezes os acontecimentos e as palavras, para que tudo volte a ser como era. Encontro-me neste limbo, em que ao fim de quase praticamente 2 anos estou com vontade de fazer renascer este blogue; engraçado que acho que isso sempre acontece quando me sinto só para com os meus pensamentos. É neste momento de introspecção que me parece fazer mais sentido partilhar. Talvez pareça estranho, talvez contraditório, mas talvez porque começo a olhar para trás e vejo o longo caminho percorrido: quero mostrar o que cresci.

Nestes 2 anos houve histórias que podia ter escrito e descrito, aventuras e desventuras, altos e baixos, foram tempos conturbados em que, obrigada a abrandar, para um ritmo lisboeta, fui sentindo as travagens mais bruscas e ligeiras que fui fazendo. Foi um bonito percurso, pensando bem, houve momentos de euforia, momentos blaisé, de pura diversão e pura entrega, foi um misto de sentimentos nos quais muitas vezes me senti perdida, desiludida, feliz. No entanto, se muita coisa poderia ter feito para além do que fiz, estou de consciência tranquila por aquilo que não alcancei. Talvez não fosse o momento, no fundo, como vítima do destino, se calhar estaria em estágio de preparação para o que viria a seguir.

Ao fim de 2 anos, realizo um sonho, um sonho que nem eu sabia que existia mas desconfiava. A vida foi-me dando voltas e voltas, entregando-me os trunfos aos poucos, para que nada viesse duma só vez. A vida é sábia? Não sei, às vezes penso nisso, ou se somos nós que nos iludimos que é possível ter tudo o que queremos ao mesmo tempo? Mas, e depois? O que nos restava no outro resto do tempo? Tédio, concerteza...

Mas voltando ao sonho, encontro-me de momento a dar a volta ao mundo, algo que no fundo sempre imaginei fazer um dia, mais longe, daquelas coisas que pomos numa lista para tentarmos não esquecer... Mas isso já todos sabem, julgo que os meus poucos e fiéis leitores contribuíram para esse mesmo desafio. É uma volta com um carácter muito profissional, com um ar sério, mas claro está, que há sempre um “outro lado da volta”... E para regozijo dos meus leitores é mesmo por causa desse lado que quero renascer!

16.12.10

LONDON x LISBON - GASTRONOMIA



Hoje vou-vos falar dum tema muito apetecível: gastronomia. Ora bem, muitos já se devem estar a rir, porque este é um jogo ganho, não há dúvidas disso, mas no entanto por estranho que pareça de vez em quando tenho apetites de coisas que não tenho como encontrar por aqui.

É verdade que a gastonomia inglesa aparenta ser pouco variada e entre as 'pies', fish & chips, sunday roast, puddings e o sausage & mash, a nossa gastronomia portuguesa só em receitas de bacalhau ganha-lhes aos pontos. Também não falo do 'curry' indiano ou paquistanês que já é considerado prato nacional e muito apreciado por todos. Mas subindo um pouco para norte,a caminho da Escócia os pratos de carne multiplicam-se e carne de caça começa a surgir em todos os menus dos gastro pubs que se vão encontrando pelo caminho: ele é veado, faisão, javali e afins, isto regado com um molho bem apurado.

Mas não é só para norte que as receitas se vão diversificando, rumando à Cornualha as influências francesas demonstram-se na gastronomia. Os pratos de peixe e de carne justificam a fama dos franceses. Foi aqui também que encontrei os melhores scones do mundo, servidos com doce de morango e 'clotted cream' (estado da nata antes de ser manteiga) - sim, amigos, por mais que comam scones em terras lusitanas, nunca chegarão aos calcanhares disto e tal como eu sentir-se-ão sempre enganados.

Mas voltando à metrópole, o que não existe em variedade britânica, existe em diversidade mundial... É um verdadeiro festim de sabores. Comer comida japonesa, chinesa, indiana, malaia, vietnamita, ou até mais próximo de nós: espanhola, italiana, grega e francesa é um hábito regular nesta cidade. Aliás todos os dias podemos conhecer uma gastronomia diferente, podemos rumar à Mesopotâmia, subir até à Turquia, atravessar o Mediterrâneo até Marrocos, pular para Itália e voar até à América do Sul para outras iguarias... Isto tudo numa semana, temos a sensação que viajámos o mundo e que exercitámos as nossas papilas gustativas.

E quando ouço dizer que em Londres come-se mal, dá-me uma vontade enorme de rir pela santa ignorância de algumas pessoas... É esta talvez a diferença entre ser um local e um turista. Ninguém deveria comer mal em Londres, pensando bem, poderei dar um desconto, também há restaurantes muito maus em Londres e sim, só os turistas é que acabam neles, mas quem estiver a fim de experimentar sabores do mundo não há sítio na Europa como Londres. E a preços acessíveis, principalmente comparados com os preços que se praticam em Portugal a nível da gastronomia internacional, como diriam os ingleses, um bocadinho overrated, para o meu gosto...

E claro depois para quem quiser competir noutros campeonatos, temos a gastronomia de luxo, como lhe chamo, as estrelas michelin, os chefs estrelas, aqueles que têm servido de inspiração ao resto da Europa, o Oliver, o Gordon, o Nigel, a Nigella, aqui a lista é interminável... mas talvez saborear esta gastronomia seja privilégio apenas de alguns...

Mas voltando a Portugal, o que não haverá em diversidade mundial haverá em variedade nacional, temos 1000 formas de cozinhar o bacalhau, mais 50 de açorda, arroz de peixe, tamboril e marisco... O prazer de comer para os lusitanos é um dado adquirido, o que se calhar para os ingleses comer bem é um luxo embora nos últimos anos esta tendência tenha vindo a sofrer alterações para o bom sentido, para nós portugueses é um estado cultural... e sim, nisto, mais uma vez, estamos em vantagem...

Depois disto, acho que só vos poderei desejar: Bom apetite!

24.11.10

LONDON x LISBON - TEMPO II

Previsão para o tempo de hoje: Céu muito nublado, apresentando algumas abertas da parte da tarde. Possibilidade de ocorrência de aguaceiros fortes acompanhados de vento e granizo. Temperaturas baixas em todas as regiões. Respiro fundo... Outono, é isso, sim, é normal...

Devem estar a pensar se me refiro a Londres ou a Lisboa. Ironicamente esta é mesmo a previsão para Lisboa, reconheço que se procurasse a previsão de Londres, talvez as temperaturas seriam mais baixas ainda, entre os 1º e os 5ºC, haveria a possibilidade de ocorrência de neve ou geada nos arredores da cidade e talvez vento cortante vindo da Sibéria. Nada ao qual não me tivesse habituado, efeitos do aquecimento global, corrente do golfo ou simplesmente porque a mãe natureza assim quis que as alminhas àquela latitude sofressem (ou não) de condições menos agradáveis.

Por estranho que isso possa parecer as alminhas por lá (con)vivem bem com isso, não gostam, mas também não deixam de viver porque lhes choveu outra vez em cima…

É essa talvez a maior diferença cultural subjacente a este tema. As alminhas lisboetas quando o tempo está menos bom servem-se disso como desculpa para ‘deixar de viver’, de sair, de fazer coisas, tornam-se eles próprios bichos hibernantes da sua condição de lamentação. Questiono-me se algum alentejano ou beirão deixa de trabalhar ou sair para o café porque fazem lá fora temperaturas menos agradáveis e poucos são os que conhecem o aquecimento central…

Mas voltando à questão, é esta convivência com o tempo que muitos conterrâneos questionam quando digo que (sobre)vivi em Londres durante 5 anos e que voltei para contar as histórias. Sobrevivência na opinião deles, porque ninguém luso no seu perfeito juízo consegue passar impune ao tempo. Aqui dou-vos razão, ninguém no perfeito juízo vai viver para Londres pelo tempo. Mas desde quando alguém se muda para Londres porque gosta de chuva? Para isso fiquem pelo norte do país que à excepção do Verão com mais sol, mais quente e menos chuva, o tempo também não é assim tão diferente.

Quantos portugueses conheci por terras de Sua Majestade, de terras acima do Tejo que quando os questionava se voltavam, respondiam-me que não… Para quê?, diziam-me muito indignados… Já os de Lisboa, depois duns segundos de hesitação, respondiam-me com um sorriso nos lábios. – Claro que sim, mais tarde ou mais cedo, voltarei…

Mais perguntas fazia, mais respostas obtinha e mais certezas adquiria… para chegar à conclusão que não é de tempo que os Lisboetas falam, mas de luz… Em Londres por esta altura sentia-me letárgica porque escurecia às 3h30 da tarde e eu sentia-me já um autêntico urso polar. O dia via-o muito pouco, já a noite era interminável… Em Lisboa, também escurece mais cedo, estamos no Outono e os dias vão minguando até ao solstício de Inverno, mas mesmo assim ainda se vê luz e Lisboa tem aquela luz especial que nos faz esquecer muita coisa…

E aí ganho um sorriso nos lábios, porque de luz entendo eu… ou pelo menos mais um bocadinho que os comuns mortais… Sei porque o céu é azul e porque é que a luz lisboeta é diferente de todas as outras, ou pelo menos acho que sei… mas esse segredo guardo para mim para não lhe tirar a magia nem aquilo pelo qual os lisboetas suspiram…

Não há possível comparação entre o tempo de Londres e o de Lisboa, não vos vou mentir porque realmente o tempo de Lisboa é muito melhor e ninguém no seu perfeito juízo vos dirá que prefere o Londrino, mas não é de tempo que se fazem cidades… Há quem diga que é de luz…

Já nisto, contem comigo… E quanto a isso Lisboa ganha, pelo menos no que diz respeito à luz natural leva um avanço de anos-luz de Londres e isso é coisa que ninguém lhe pode tirar...

19.11.10

LONDON vs LISBON - TEMPO I

Tempo de balanço é sempre tempo de reflexão. E não que ande propriamente a queimar neurónios nestas questões mas por graça tenho andado a pensar nas diferenças entre Lisboa e Londres. Um ano depois, e sem propriamente grandes histórias para contar, talvez seja síndrome de emigrante, em que sempre comparamos a nossa terra natal ao lá fora, tenho feito este exercício mais para mim mesma mas que decido agora partilhar convosco. Ora, não quero com isto ser paternalista e dizer que o lá fora é que é bom, acho que falo mesmo de questões culturais que por serem culturais não são boas nem más, são apenas assim, estamos entendidos?
Confesso que das primeiras coisas que me vêm à memória é a forma como vivemos o tempo. Não é esse que estão a pensar, não é do sol e da chuva que estou a falar, utilizando estrangeirismos não é de 'weather' porque desse falarei noutra altura, mas de 'time'. E acho que é aí que os portugueses se baralham, tempo é sol, e tempo é relógio, e tempo volta a ser chuva e tempo passa na ampulheta... Mas sim, falo mais precisamente da nossa relação cultural com o tempo, nomeadamente da pontualidade.
Agora imagino alguns a sorrir, porque se para uns eu era considerada a não pontual para outros fui sempre a pontual, saí de Portugal a viver nesta dualidade e chego a Portugal a viver ainda em dualidade maior. É que a pontualidade britânica entranhou-me e esta noção de tempo também.
Em Londres sabíamos por regra geral que demorávamos em média 45 minutos por percurso, quer fôssemos ao virar da esquina que em termos Londrinos, é como ir do Campo Grande à Baixa ou atravessar a cidade de Notting Hill a Tower Hill, ou seja de Belém à Expo. Depois havia destinos mais complexos, aí aplicávamos uma fórmula complicada e adicionávamos toda uma série de variantes e os números oscilavam entre os 54' e 37'' e os 85' 34''. Nestes casos já havia algumas tácticas, os pontos de encontro eram sempre em locais de interesse, vulgo lojas, comidas, bebidas ou até mesmo espaços culturais, sítios onde podíamos sempre entrar para escapar da chuva ou do sol e entreter o olhar... Acho que foi assim que aprendi a treinar o meu olho para rentabilizar o tempo, não que estivesse muito tempo à espera de alguém, mas dei por mim a chegar sempre com algum tempo de avanço.
Aliás a pontualidade britânica é mesmo isso, é chegarmos sempre antes de tempo, e depois fazer horas porque também não fica de bom termo chegar antes. É que emite a mensagem errada, como ouvi dizer, se o encontro é profissional, dá ar de que estás desesperada e que precisas muito do trabalho; se o encontro é um 'date', podes deixar o rapaz esperar, que é para pensar que desististe à última, mas também não o deixes esperar muito, porque se não quem perde o interesse é ele e sentindo-se idiota retira-se; se é um encontro de amigos, podes sempre dizer que estás na loja ao lado, que te liguem ou se despachem porque senão quem se queixa é a tua conta bancária, e os amigos até se despacham, não por ti, mas curiosos para ver o monte de coisas giras que te fez gastar todo o plafond dum mês.
E depois há outra coisa, quando alguém se atrasava quer fosse 5 minutos, lá estava sempre a sms de desculpas e a transmitir uma nova estimativa do atraso, e quem diz estimativa diz precisão. Eu sabia se estava em tal sítio e se o metro estava atrasado 7' 25'' então fazia cálculos de quantos minutos precisava tendo em conta o nº de pessoas na rua num x dia de semana e a distância da paragem ao local de encontro e estimava mais uns 8' 07'', isto no fundo dava-me uns aproximados 15 minutos, se saísse disparada da estação então ainda podia ganhar os 32''.
Bem claro que para chegar a este nível foram 5 anos de intensa vivência de transportes públicos e inúmeros encontros e em locais variados. E depois também há outras ajudas que posso confessar como por exemplo um site denominado journeyplanner, um site muito útil que nos sugeria de x a z o percurso a fazer utilizando os meios transportes que quiséssemos e que nos fazia uma estimativa do tempo a demorar. Para além disso dizendo a hora que queríamos chegar fazia-nos o processo inverso e apresentava várias alternativas. Aí também já sabia a tolerância para cada tipo de transporte e fazia os cálculos à minha maneira.
Chegando a Lisboa, deparei-me com um cenário diferente. O tempo aqui não é contado aos minutos ou aos segundos mas em funções logarítmicas. Ou seja os 2 mins, nunca são 2 para passarem a ser 7, e os 5 são na verdade 12, os 15, são 24 e os 30 são 47... e assim por diante... E claro isto depois varia de indivíduo para indivíduo ou seja se é x ou y, da velocidade a que anda ou diria a que o carro avança, neste caso. E depois se faz sol as pessoas demoram menos e quando faz chuva demoram mais, ou então mais uma vez dependendo do indivíduo há uns em que esta função é inversa. Uns quando faz sol, sentem-se felizes, ouvem música feliz e o carro anda mais depressa, por outro lado, outros mais optimistas saem de casa em cima da hora, quando de repente se apercebem que como eles milhares de outros se lembrarem de desempoeirarem o carro. Com a chuva o trânsito empanca, como seria de se esperar ou por outro lado, talvez os que vêm de transportes públicos andem mais rápido porque querem fugir à chuva, não querem passar muito tempo na rua e põem-se a mexer de qualquer maneira. E depois ninguém nos avisa de quanto tempo é que os transportes estão atrasados... Ou seja as variáveis à partida parecem-me um pouco mais complexas...
Mas se calhar chegando ao cerne da questão... as pessoas não têm brio nenhum em chegar a horas. Não digo isto com desdém, infelizmente isto é uma atitude colectiva, quantas vezes me sinto idiota em esperar os tais 12, 24, 47 minutos por alguém. Quando chego a horas, timidamente depois confessam-me... pois desculpa, tenho alguma dificuldade em chegar a horas, ENTÃO PORQUE É QUE NÃO ME AVISAS??? Infelizmente o respeito pela pontualidade em Portugal não é nenhum... Uma conferência está marcada para as x hrs, começa 30 mins mais tarde, e claro quando as coisas começam realmente a horas toda a gente acha estranho... Eu passo por isso, todos os dias, dou por mim a desistir de chegar a horas a não ser salvo raras excepções, felizmente ainda as há, nomeadamente em encontros profissionais e com amigos que eu sei que como eu prezam a pontualidade. Se por um acaso não posso chegar à hora precisa então lá vai a sms da praxe com nova estimativa.
Por outro lado tenho outros amigos, com quem já desisti, que ou dou comigo a marcar com eles 30 minutos mais cedo, facto que nem sempre dá bom resultado porque é precisamente no dia em que eles decidem chegar mais cedo e eu é que passo pela atrasada e depois na vez seguinte já não caem na mesma esparrela, e como acham que eu chego 30 mins mais tarde passam eles a fazer os cálculos para chegar àquela hora. Ando a tentar instituir o liga-me quando saíres de casa, assim eu saio também... ou ainda vou-te buscar a casa, ligo-te 10 mins antes a dar o toque, e buzino 3000 vezes para que sintam vergonha da amiga maluca e despacharem-se antes que os vizinhos comecem a atirar ovos...
Agora sei que isto é uma questão cultural, não me cabe a mim decidir o que é melhor ou pior...
Mas posso só pedir uma coisa? Se marcarmos encontro podem apenas dizer-me se são Londres ou Lisboa?


4.11.10

1 YEAR LATER...

Um ano depois estou aqui. Tenho tido alguma dificuldade em perceber o que isso significa. Se por um lado 1 ano parece muita coisa por outro 1 ano não é nada... Estou a tentar ver onde me encaixo...
Fiz listas e mais listas, planos, tabelas, pros & cons do que foi este ano e por mais que me esforce não chego a conclusão nenhuma e tudo parece depender do ponto de vista em que se vê.
Já dizia Jarabe de Palo: 'Depende, de qué depende, de según como se mire todo depende'.
Quando falo do estar aqui, falo de voltar às origens se é que Lisboa se possa chamar a origem. Se por vezes perguntam-me porque voltei outros perguntam porque saí daqui em primeiro lugar? Lá está o depende...
E confesso que é daquelas perguntas difíceis. Sinto que nada do que disser possa expressar ou explicar logicamente o porquê das minhas opções. Se me perguntam se hoje, neste preciso momento, acho que fiz bem deixar uma cidade na qual passei os meus últimos 5 anos e que provavelmente onde poderia passar os próximos 5... Poder, podia, mas não seria a mesma coisa...
Se hoje iria para outro sítio, confesso que neste momento não consigo pensar noutra alternativa, por estranho que pareça, mas há qualquer coisa que me faz ficar e isso não consigo eu explicar... E nem é por alguma razão especial, simplesmente porque sinto que sim...
Há coisas que sentimos que têm o seu tempo e que não faz sentido voltar atrás... Se hoje voltaria para Londres? Só por amor... Estão-se a rir? Acho que esta possivelmente seria a resposta mais lógica para uma qualquer opção tomada...



28.10.10

AFTER SUMMER, AUTUMN...



Escrevia agora o título deste post e lembrei-me dum filme que vi o ano passado nos últimos dias antes de voltar a Portugal. É daqueles filmes que não me importo de rever vezes sem conta, pela simplicidade da história, pela banda sonora, mas talvez mesmo porque me lembro de Londres...
Mas para quem não conhece (500) Days of Summer (peço desculpa, mas não sei fazer aqueles links do youtube) é daqueles filmes independentes tipo Juno, talvez até mais superficial, mas que no fundo lá nos consegue tirar umas quantas risadas ao acompanharmos as (des)aventuras amorosas do Tom, arquitecto / copy que não sabe o que fazer da vida a não ser querer lutar pelo seu amor (de) Verão. Isto para concluir que depois desta relação conturbada, lá mesmo no final, chega Outono... Outono com um laivo de esperança...
Infelizmente a minha relação com Outono tem tudo menos esperança. Outono é daquelas alturas do ano em que fico hiper sensível às mudanças climatéricas, se faz sol de outono, fico nostálgica, se faz chuva fico deprimida, se faz frio, só quero hibernar, e se faz calor suspiro de novo pelo Verão...
Há quem diga que o Outono associado ao novo ano escolar é um começo para muita gente, é um momento de esperança, lá está, o Tom tem razão, mas para mim, passada a euforia da primeira semana de rever os amigos, caía de novo na rotina e em todo um estado de espírito de reclusão. Depois caíam as folhas, cenário nostálgico e melancólico, dos mais bonitos e coloridos da natureza, mas dos mais 'negros' que possa ter passado. E depois há aquela sensação que a partir de agora é sempre a piorar, os dias começam a minguar, o frio começa a bater à porta, a chuva a encher, e os dias cinzentos e nuvens negras a pairarem sobre nós. E aspiramos a um novo ano, a um novo começo, mas que só virá lá mais para o início do ano... 2 meses disto...
Eu sei... A mãe natureza é sábia, porque depois vem o Inverno, e no fundo todo este processo de transição do Outono serviu-nos para nos mentalizarmos disso... E depois batendo no fundo do Inverno, sabemos que cada dia a partir dali é sempre a melhorar, um pouco mais calor, um pouco menos chuva, até cairmos nas graças da Primavera...
Olhem não sei, isto hoje deu-me para isto... Quem sabe, volto a repetir o filme já que vou iniciar os meus 120 Days to Spring...