PUERTO NATALES
Chile - Puerto Natales, 24 de Abril de 2008
Há quem diga que a vida é uma viagem ou será que uma viagem pode ser uma vida?
Basicamente o que eu quero dizer é que tal como na vida nem tudo é perfeito e há momentos de frustração, momentos de impaciência, de espera, de dúvida, de felicidade, de revelação...
Perto Natales foi um deles, uma vila no meio do nada, um pueblo que pouco tem para oferecer, um tempo também não muito animador e de repente sentimos que tudo está contra nós. Desse dia nem uma fotografia, só para verem o meu desconsolo, logo eu que sou a maior entusiasta do registo de memórias.
Isto começou logo que chegámos à vila a lindas horas da madrugada. Na maior das ingenuidades quisémos organizar o dia seguinte e correr logo para o Parque Nacional Torres del Paine para aproveitar ao máximo o tempo perdido. Levantaram-nos o sobrolho e perguntaram onde estavam as nossas tendas e todo o material e se iríamos fazer o 'W' ou 3, 5 ou 8 dias? Cantil, saco cama, bússola, tenda, a lista ia crescendo à medida que o rapaz nos enumerava o material necessário para a verdadeira experiência da natureza. Felipão e Té procuravam em mim respostas a todas as estas perguntas, aspirando que eu talvez conseguisse estabelecer o plano de ataque. Lembrei-me da minha amiga escuteira, devia ter-me proposto a acompanhá-la numa das suas expedições, pelo menos agora saberia o que fizer e rendi-me às evidências. Completamente alienada percebi o quanto estou a anos luz da verdadeira aventureira: tenho o ar radical, as botas, as calças caquis cheias de bolsos e o blusão corta-vento mas isto é outra história, já para não falar da falta de dias... Bem, decidimos por um foto safari de carro, só o nome deixa a desejar e quase nos põe na lista da brigada do reumático... Enfim...
Passando à frente, o nosso hostal, algo muito próximo das condições de campismo, um staff prestável e animador e até uns amigos na bagagem nesta terra tão desoladora, no entanto como não se pode agradar a gregos e a troianos acabámos por mudar. E como não há duas sem três tentámos organizar o resto da nossa viagem, aproveitámos este dia de paragem e de descanso para estabelecer os nossos objectivos e delinear a estratégia de ataque. Um ataque de pânico colectivo - não tínhamos viagem de regresso entre o nosso último destino a Buenos Aires, ou seja, ficaríamos presos na Patagónia com os dias contados até ao regresso à vida real. Ao fim de alguma pesquisa lá encontrámos as viagens ao preço de ouro e depois de Té e Felipão reservarem as viagens, tal não é o meu espanto quando fui pôr o meu nome e me aparece FLIGHT NOT AVAILABLE. Isto devia ser uma brincadeira de 1º de Abril, apesar de fora de época, mas quem sabe as coisas aqui no Chile são bem lentas mesmo. Não, não era brincadeira e depois de alguns contactos entre Billy em Buenos Aires, várias agências de viagem, as viagens estavam mesmo esgotadas. Agora só na Argentina, mais perto da data a ver se alguém desisitiria... Até lá, a dúvida...
Não havia nada a fazer se não explorar o pueblo, saímos com René e passámos o dia juntos. Ele contava-nos os planos dele: iria apanhar um barco de Puerto Natales até Puerto Montt entre os glaciares, 4 dias enfiado num barco. De repente abriu os olhos e exclamou: - Oh não, 4 dias num barco!?? E o bebé? Não sei porquê mas quando me disseram hoje de manhã que tinham visto o casal com o bebé do autocarro a passear na cidade algo que me diz que vou passar mais uma viagem com eles. É o destino! E não me levem a mal, eu gosto de bebés, mas 4 dias no mesmo espaço com eles!
Rimo-nos, é verdade que é louvável fazer uma viagem de 17 horas de autocarro com crianças, leva-nos a pensar que realmente se queremos algo muito não há nada que nos impida de o fazer, nem que isso seja uma criança de 2 anos...
René continuou: - I keep on postponing my trip back. I came in November, started learning spanish so I could make it to the south. I was distracted and was deviated to North of Argentina, Chile, Brazil, Uruguay,... By March I still hadn't got to Patagonia, Ushuaia. That was my dream! Patagonia was my dream, I always wanted to go to Patagonia for many years now. I saved money and that was the aim of this trip. I'm happy now, I made it, and to be honest so far all the rest was a bonus!
Senti que me tinham dado uma pancada, o tempo pareceu mais lento e ainda consigo lembrar aquele preciso momento e as palavras, algo parecido a uma revelação. Sei que isto pode parecer cliché, mas de repente temos diante de nós alguém mais novo mas com uma serenidade, uma paz fruto duma vida inteira e que nos lembra algo que estava bem esquecido... Patagonia was my dream... all the rest was a bonus... As palavras ressoavam vezes e vezes sem conta... É isso, ainda não atingi o meu sonho, porque todos nós temos um, não é verdade? E se já estive bem próximo, a verdade é que ainda não consegui lá chegar, mas no entanto tudo o resto até agora... tem sido bónus... Senti naquele momento que tinha ganho a lotaria, finalmente o meu momento de felicidade desse dia.
Uma vida numa viagem ou seria uma viagem numa vida?
P.S.: Dedico este post à minha amiga escuteira porque me lembrei dela. A primeira das comentadoras privilegiadas a ter direito a uma dedicatória. Seguir-se-ão outras, não se preocupem. Quanto aos não comentadores ainda vão a tempo de participar no passatempo (ver post 100).
Há quem diga que a vida é uma viagem ou será que uma viagem pode ser uma vida?
Basicamente o que eu quero dizer é que tal como na vida nem tudo é perfeito e há momentos de frustração, momentos de impaciência, de espera, de dúvida, de felicidade, de revelação...
Perto Natales foi um deles, uma vila no meio do nada, um pueblo que pouco tem para oferecer, um tempo também não muito animador e de repente sentimos que tudo está contra nós. Desse dia nem uma fotografia, só para verem o meu desconsolo, logo eu que sou a maior entusiasta do registo de memórias.
Isto começou logo que chegámos à vila a lindas horas da madrugada. Na maior das ingenuidades quisémos organizar o dia seguinte e correr logo para o Parque Nacional Torres del Paine para aproveitar ao máximo o tempo perdido. Levantaram-nos o sobrolho e perguntaram onde estavam as nossas tendas e todo o material e se iríamos fazer o 'W' ou 3, 5 ou 8 dias? Cantil, saco cama, bússola, tenda, a lista ia crescendo à medida que o rapaz nos enumerava o material necessário para a verdadeira experiência da natureza. Felipão e Té procuravam em mim respostas a todas as estas perguntas, aspirando que eu talvez conseguisse estabelecer o plano de ataque. Lembrei-me da minha amiga escuteira, devia ter-me proposto a acompanhá-la numa das suas expedições, pelo menos agora saberia o que fizer e rendi-me às evidências. Completamente alienada percebi o quanto estou a anos luz da verdadeira aventureira: tenho o ar radical, as botas, as calças caquis cheias de bolsos e o blusão corta-vento mas isto é outra história, já para não falar da falta de dias... Bem, decidimos por um foto safari de carro, só o nome deixa a desejar e quase nos põe na lista da brigada do reumático... Enfim...
Passando à frente, o nosso hostal, algo muito próximo das condições de campismo, um staff prestável e animador e até uns amigos na bagagem nesta terra tão desoladora, no entanto como não se pode agradar a gregos e a troianos acabámos por mudar. E como não há duas sem três tentámos organizar o resto da nossa viagem, aproveitámos este dia de paragem e de descanso para estabelecer os nossos objectivos e delinear a estratégia de ataque. Um ataque de pânico colectivo - não tínhamos viagem de regresso entre o nosso último destino a Buenos Aires, ou seja, ficaríamos presos na Patagónia com os dias contados até ao regresso à vida real. Ao fim de alguma pesquisa lá encontrámos as viagens ao preço de ouro e depois de Té e Felipão reservarem as viagens, tal não é o meu espanto quando fui pôr o meu nome e me aparece FLIGHT NOT AVAILABLE. Isto devia ser uma brincadeira de 1º de Abril, apesar de fora de época, mas quem sabe as coisas aqui no Chile são bem lentas mesmo. Não, não era brincadeira e depois de alguns contactos entre Billy em Buenos Aires, várias agências de viagem, as viagens estavam mesmo esgotadas. Agora só na Argentina, mais perto da data a ver se alguém desisitiria... Até lá, a dúvida...
Não havia nada a fazer se não explorar o pueblo, saímos com René e passámos o dia juntos. Ele contava-nos os planos dele: iria apanhar um barco de Puerto Natales até Puerto Montt entre os glaciares, 4 dias enfiado num barco. De repente abriu os olhos e exclamou: - Oh não, 4 dias num barco!?? E o bebé? Não sei porquê mas quando me disseram hoje de manhã que tinham visto o casal com o bebé do autocarro a passear na cidade algo que me diz que vou passar mais uma viagem com eles. É o destino! E não me levem a mal, eu gosto de bebés, mas 4 dias no mesmo espaço com eles!
Rimo-nos, é verdade que é louvável fazer uma viagem de 17 horas de autocarro com crianças, leva-nos a pensar que realmente se queremos algo muito não há nada que nos impida de o fazer, nem que isso seja uma criança de 2 anos...
René continuou: - I keep on postponing my trip back. I came in November, started learning spanish so I could make it to the south. I was distracted and was deviated to North of Argentina, Chile, Brazil, Uruguay,... By March I still hadn't got to Patagonia, Ushuaia. That was my dream! Patagonia was my dream, I always wanted to go to Patagonia for many years now. I saved money and that was the aim of this trip. I'm happy now, I made it, and to be honest so far all the rest was a bonus!
Senti que me tinham dado uma pancada, o tempo pareceu mais lento e ainda consigo lembrar aquele preciso momento e as palavras, algo parecido a uma revelação. Sei que isto pode parecer cliché, mas de repente temos diante de nós alguém mais novo mas com uma serenidade, uma paz fruto duma vida inteira e que nos lembra algo que estava bem esquecido... Patagonia was my dream... all the rest was a bonus... As palavras ressoavam vezes e vezes sem conta... É isso, ainda não atingi o meu sonho, porque todos nós temos um, não é verdade? E se já estive bem próximo, a verdade é que ainda não consegui lá chegar, mas no entanto tudo o resto até agora... tem sido bónus... Senti naquele momento que tinha ganho a lotaria, finalmente o meu momento de felicidade desse dia.
Uma vida numa viagem ou seria uma viagem numa vida?
P.S.: Dedico este post à minha amiga escuteira porque me lembrei dela. A primeira das comentadoras privilegiadas a ter direito a uma dedicatória. Seguir-se-ão outras, não se preocupem. Quanto aos não comentadores ainda vão a tempo de participar no passatempo (ver post 100).
2 Comments:
Eu acho que esta é para mim!!!
Acuso a recepção :)
Pauleta deverias saber que se aluga material de campismo nesses sitios inóspitos. Eu aluguei todo o material quando estive em El Chalten. Uma escoteira por perto faz muita falta.
Patagonia was one of my countless dreams. Acho que é melhor colocar as coisas assim, para não haver tanta pressão num só sonho. A vida é um bónus.
Beijinhos
Ah, e obrigada pela dedicatória!
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