10.6.09

THE BEGINNING


Quando entramos num avião, há sempre um momento de excitação, de ansiedade, por sabermos que do outro lado uma outra realidade nos espera, seja ela de que natureza fôr. Desta vez foi diferente, senti-me ansiosa, sim, não por entusiasmo, mas por receio.

Há algo que preciso de esclarecer, por estranho que pareça, nunca fiz uma viagem de longa duração sozinha. Sempre tive o privilégio de viajar com gente ou ir ao encontro de alguém. E se viajar sozinha, principalmente como mulher, hoje em dia, não seja propriamente 'such a big deal' para as culturas norte-europeias, toda a gente o faz, eu faço parte daquela percentagem de pessoas que sempre achou que o viajar a solo era um acto de rebeldia e de solitude. Como nunca fui Lucky Luke - the lone ranger - nunca tive interesse nenhum na experiência solitária, muito pelo contrário. Mais importante ainda, se havia coisas que receava e que tinha como piores pesadelos, viajar sozinha era uma delas.

É verdade que já me mudei de malas e bagagens para sítios como Londres, Bélgica e Barcelona, sem conhecer praticamente ninguém, o que para muitos será muito mais assustador (ou não) que o simples facto de viajar a solo. Mas quando nos mudamos para outra realidade, sabemos que nos vai ser dado tempo suficiente para nos adaptarmos a esse novo estilo de vida. Não nos é exigido que ao fim dos primeiros dias estejamos com um sorriso e um à vontade como peixe dentro de água, porque tudo leva tempo. Quando se faz uma viagem de 2 semanas, sabemos à partida que não temos esse tempo de adaptação. Tudo é vivido muito mais intensamente não só fisicamente como emocionalmente.

Entrei no avião e engoli seco, não havia volta a dar. Tinha um plano de acção, num acto de solidariedade, uma amiga tinha-me organizado a minha viagem e eu aceite o desafio que me tinha proposto. Sabia para onde ia e o que iria fazer e se caso corresse mal, haveria sempre a possibilidade de me isolar completamente deste mundo e embrenhar-me na quantidade de livros que tinha levado, por sorte, algures numa ilha paradisíaca...

Após umas trocas de palavras com os vizinhos do lado, malaios e de regresso a casa, perguntava-me Joe: - Where is your friend? Acenei que não, ia sozinha. Joe abriu os olhos: - You? Very brave girl!

Sorri timidamente e recostei-me na cadeira, felizmente tinha uma quantidade de filmes disponíveis para ver. Optei pelos menos pesados, aqueles que nos deixam num estado de descompressão do disco rígido.

Quando dei por mim, as lágrimas escorriam-me pela cara. Não que seja muito de chorar, mas fi-lo por mim, pelas vezes em que quis chorar e não consegui, chorei por desilusões passadas, por momentos de alegria, de ansiedade, de receio, chorei e continuei a chorar, revi memórias, momentos, chorei e chorei até não poder mais... Acabei por adormecer, julgo que de exaustão.

13 horas depois desembarcava do outro lado do mundo... sentia-me vazia, mais leve e parecia que tinha sobrevivido ao primeiro passo da aventura...

0 Comments:

Post a Comment

<< Home