12.5.07

012 LOST



Isto já não é novidade, mas madrugámos outra vez com o telefonema de Vietname. Um pouco desconcertada, China olhou para mim: " Pequim, isto não está nada bem!!! Vietname pediu ajuda. Diz para procurarmos um helicóptero, um barco, qualquer coisa!!! Elas não conseguem sair da ilha!!! "
Esfreguei os olhos e pensei para mim - ' Isto não está a acontecer! Onde é que vamos nós arranjar um helicóptero num sábado e no outro canto do país?... (Hanoi fica a 3,5 hrs de avião, ora isso é mais do que a distância de Londres a Lisboa).
Despachámo-nos à pressa e fomos tomar o pequeno-almoço. No hotel começaram a insistir se ficávamos ou não e que tínhamos de pagar até daí a meia hora, porque se não perdíamos o quarto. Entre tamanha confusão e stress, mandámo-los passear e resolvemos deixar o hotel para trás também.
Claro está, para acrescentar à generosa missão desse dia - encontrar o helicóptero - também tínhamos de procurar hotel. Malas às costas rumámos ao desconhecido...
Ás voltas e voltas decidimos sentar-nos num café e pedir uma lista telefónica. Íamos procurar os telefones da embaixada portuguesa e pedir ajuda. Era a única coisa que nos ocorria, pelo menos poderiam dar-nos uma indicação de como resolver o problema.
Para começar fiquem a saber que embaixada portuguesa na Indochina só mesmo em Bangkok. Liguei mas claro que ao Sábado ninguém trabalha nem mesmo do outro lado do mundo e muito menos numa embaixada portuguesa. Deixei mensagem a pedir ajuda, e só vos digo que até hoje nunca ninguém nos ligou a saber o que se passava. Nem pensem sequer entrar em confusões por estes lados, é o meu conselho... Tentei o consulado francês e britânico no Vietname, mas também estes estavam fechados e se os portugueses não nos ligaram, muito menos os outros.
Não tínhamos helicóptero para enviar e por mais que nos esforçássemos para nos fazer entender com os locais ninguém percebia a nossa aflição. Exaustas e frustradas resolvemos pelo menos cumprir uma das missões - o hotel.
Fomos entrando e vendo quartos, mas nenhum nos agradou. Já desmoralizadas, resolvemos tentar um com ar melhorzinho. Entrámos e ficámos... Vietname voltou a ligar: já não precisavam de helicóptero, porque tinham arranjado um pescador que se propôs a trazê-las ao continente a um porto de onde apanhariam depois um carro para Saigão. O plano parecia bom e também não as podíamos desmoralizar, neste momento precisavam de todo o nosso apoio nem que fosse uma voz do outro lado do telefone...
Resolvemos ir ver o tempo na internet para descarga de consciência e claro que o que vimos não nos agradou. O tempo era péssimo e se um barco grande como o que era suposto trazer-nos foi cancelado, imaginem uma barcaça de pescadores? O estômago subiu até à garganta e ficámos em silêncio.
Ficar ali não nos adiantaria de nada e resolvemos perguntar na recepção para onde ir, onde acabámos por desabafar toda a nossa história e das nossas amigas perdidas na ilha. A senhora prontificou-se a ligar para um hotel na ilha para saber como estavam as coisas. E assegurou-nos que mais turistas iriam fazer o mesmo, que levaria umas 4 hrs e para não nos preocuparmos. Saímos...
Claro que há o outro lado da história e apesar de não ser completamente fidedigna nos factos, a verdade é que foi um mau bocado para ambos os lados, nós porque nos sentíamos perdidas e impotentes e as outras literalmente perdidas no mar.
Foram 6 hrs de agonia, sim porque a viagem que levaria 4, durou 2 hrs a mais. Já para não falar de que em pleno alto mar perdemos ligação com Vietname e Saigão, e ficámos sem saber o que pensar ou o que fazer - a comida custava a descer e a vontade de passear não era nenhuma...

O outro lado da história...

Juntamente com 3 australianos mais 2 suecas gigantes, as nossas amigas rumaram a mar alto na tal barcaça de pescadores, literalmente barcaça, para não chamar quase jangada de náufragos. Nas primeiras 2 horas o mar parecia calmo e o ar simpático do capitão e da sua tripulação, apenas os seus 2 netos de 12 e 13 anos, pareciam bastante animados e descansados, tranquilizando assim as nossas amigas. Quem nunca passou uma tempestade em mar alto não pode imaginar o que são vagas de 7 e 8 metros. A aflição durou 2 hrs e o silêncio reinou entre todos... A água entrava por todos os lados, as janelas sem vidro, o quadro eléctrico à vista onde as lâmpadas desconcertadamente baloiçavam...

Terra à vista!!! O coração bateu mais intensamente mas contrariamente o barco abrandou. Já de noite, seria necessária toda a paciência e tempo do mundo para que as redes dos pescadores não se entrelaçassem na hélice do barco e pusessem tudo a perder... Mais 2 horas e chegariam a terra... São e salvas a aventura não acabaria por aqui, pois para além de terem sido rodeados de todos os aldeãos, gente que nunca tinha visto estrangeiros e brancos na vida, e que vieram para o centro assistir a tamanho espectáculo de circo - os gigantes do mar - o autocarro que estaria à espera para as levar a Saigão não estava no sítio combinado.

Mais uns telefonemas e a viagem de regresso acabou por ser numa carrinha de 6 mas para 7 pessoas. Entaladas entre os australianos, as suecas e as malas desta gente toda, podem imaginar que a viagem que durou 8 hrs pelo delta do rio, por estradas de terra batida, deu origem a muitas outras aventuras, culminando no aeroporto onde os vôos estavam todos esgotados quando chegaram... Entre o desespero, o cansaço e fome, felizmente ainda existem anjos na terra, que lhes arranjou milagrosamente 2 lugares...

(picture by Vietname)

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