EUROMILHÕES

Só me apercebo que realmente me tornei Londrina, quando vou a Portugal, mais propriamente Lisboa e tudo me parece familiar. Nestes dois últimos anos que passaram, os sítios de convívio mantiveram-se praticamente os mesmos, e quando há novidades rapidamente me actualizo e marco o ponto.
As pessoas também: aliás dou por mim a passear pela cidade e a cumprimentar toda a gente como de amigos de longa data se tratassem. Penso para com os meus botões, não me lembro do teu nome - isto deve ser da idade - mas acho que já nos conhecemos, amigos do primo do António, que por sua vez estava com a Joana e conhecia a Raquel... Retribuem-me os sorrisos timidamente e depois descubro que afinal não conheço ninguém coisíssima nenhuma e foi apenas de frequentarmos os mesmo sítios tantas vezes. Passo por maluca, e só me apetece desaparecer...
No entanto caio em mim e esta familiaridade é confortável e benvinda e sinto que realmente um dia pertenci à cidade...
Como Londrina habituamo-nos a não ver caras familiares, memorizando todos os dias diferentes feições de todas as cores, raças e feitios. Quase arriscaria a dizer que quando vemos alguém minimamente familiar, somos invadidos por uma estranheza e procuramos mensagens da vida subjacentes ao encontro. Por outro lado quando vemos alguém que conhecemos então faz-se a festa. Mas no entanto há certas coincidências que nos fazem pensar que talvez o mundo seja mesmo um T0. Estranho mesmo é perceber que há coincidências que fazem parte de uma narrativa e de um encadeamento de acontecimentos que nos levaram a estar naquela hora, em tal sítio e encontrar tal pessoa. Quais são as probabilidades de numa cidade de 8 milhões de habitantes encontrar um amigo lisboeta que estava de passagem por Londres e com quem era para me encontrar uns dias depois, num sítio por onde passo de vez em quando e num dia de semana?... 1 em 8 milhões é a resposta... Pensando bem, na semana passada devia ter jogado no Euromilhões...