30.11.07

CRÓNICA EM PRIMEIRA MÃO

Esta última semana, teimosa como sou, andei a tentar enganar a minha constipação entre paracetamol, aspirinas e vitaminas. Claro está com meio mundo à minha volta a ameaçar a doença, a minha garganta dorida, a pele do meu nariz já meio esfolada de tanto me assoar, as minhas resistências baixaram e depois de ter perdido os eventos sociais das milhares das festas de Natal que esta gente organiza - eles adoram - hoje lá me arrastei até ao médico. 5 minutos entre balança, auscultações, ahhhhhhh, com o palito enfiado na garganta, volto com a mesma receita de há 6 meses atrás: antibiótico, eu que sempre os evito, rendi-me às evidências... A verdade é que depois dos primeiros comprimidos já me sinto mais arrebitadita e com possibilidades de me aventurar no primeiro evento social do fim-de-semana e depois duma semana à espera dele - agora vivo entre fins-de-semana, deixei de tentar agarrar o entremeio - completamente exausta com a desculpa de que todos os dias era necessária no trabalho, porque achamos que somos sempre indispensáveis, acho esta pausa bem merecida...
Uma chuvada à saída do atelier, isto não estava previsto, corro para o autocarro, abro o jornal para voltar a fechá-lo rapidamente. Já não basta uma pessoa estar fragilizada pela doença mas tudo o que vem é absolutamente assustador - o mundo está perdido entre assassínios, desaparecimentos, corrupção - nem vale a pena estender-me nisto porque somos deparados com o mesmo todos os dias independentemente em que parte do mundo estamos... Deixo o jornal por lá caído para o próximo leitor e chego a casa completamente encharcada...
Mudo rapidamente de roupa, ponho um CD a tocar, não interessa o quê, o que lá estiver... YELLOW começa agora a tocar e enrosco-me no sofá... Ligo o computador - é deprimente, saio dum pc para outro - e vou ao meu blog. Um comentário novo e aventuro-me por outros blogues...
Numa semana em que já não bastavam todas as circunstâncias já mencionadas, vou descobrir que até fui rejeitada do facebook, ou seja fui oficialmente descartada como amiga (o mundo está perdido mesmo - mais tema para outro post de blog, mas isso será para outras núpcias), percebo que apesar das desavenças cibernéticas, os amigos estão algures aqui, do outro lado do écrã, seguindo todas as minhas aventuras e desventuras e a chuva, a gripe ou a música que apela ao sentimento deixam de ter importância...
Desligo o pc e preparo-me para sair, parece que hoje é dia de festa...

27.11.07

OUVIDO DE PASSAGEM

Numa noite fria de Outono a seguir ao trabalho combinei com uma amiga encontrarmo-nos para pormos a conversa em dia. O local escolhido, SoHo, num restaurante tailandês situado na rua principal. Modesto para esta zona de Londres onde 'clubs' e bares proliferam e combinam a maior variedade de classes sociais.
No entanto é nestas pequenas pérolas que encontramos as melhores histórias, somos confrontados com todo o tipo de pessoas: casais de todas as cores e formas e combinações possíveis, pessoas com pressa, sozinhas, amigos, colegas de trabalho, homens de negócio, ouvimos línguas dos mais variados pontos do mundo. Um micro-cosmos ou caos que se aglomera em tao pequeno espaço onde se partilham mesas...

- Sorry, girl! For the past 20 minutes you kept on telling me that you don't want a relationship and you don't want to be with someone just for fun! You think a relationship means a serious commitment with a wedding and children on the way and you are too scared. You want something in between, cool, relaxed, no pressure, but I'm not sure if that exists, because the moment the guy will tell you he has plans or he'll see someone else you won't be cool about it.
But I know what are you looking for: You want someone that waits for you at home, cares about you, when you are sick has something to say, someone that organises a cinema for you, makes you coffee / tea or even bring you breakfast in bed? (Ela acenava que sim, as barreiras tinham caido, no fundo tinha razao...)Things as simple as that, just someone to be there for you... Well if this is not a relationship for you, then... you should find a butler!!!

A este ponto ninguém aguentou e matou-se tudo a rir...
Nesta metrópole no maior anonimato londrino habituamo-nos a ser meros numeros desta grande cidade e a privacidade e interacção ganham uma outra dimensão...

23.11.07

HÁ DIAS ASSIM...

Há dias assim... que acordamos e o sol está radioso e o céu de um azul que faz doer os olhos. Entusiasmo-me, ponho o meu vestido, os meus botins, casaco e saio no maior estilo londrino, para depois perceber que as previsões meteorológicas estavam certas quando falavam de máximas de 5º. Caminho para a paragem de autocarro, porque andar com este frio é suicídio e depois duma considerável espera, sinto que mais uns 5 minutos e congelava...
Há dias assim... em que tudo corre fluidamente até ao momento em que vamos para uma breve reunião que se torna numa sessão exaustiva de 2,5 horas e por mais que o colega seja giro e que queira mostrar os dotes comunicativos e intelectuais num assunto que não me diz respeito - urinóis e WCs, começo a divagar: "Ora bem, qual é o programa das festas da semana? Para amanhã, uma festa de aniversário em Lisboa, outra no Porto, 4 festas para o próximo fim-de-semana, milhares de festas de Natal às quais perdi a conta... Lista de compras: leite, pão, massa, etc... E a que horas é que tinha de estar em tal sítio? Apanho o autocarro, metro, comboio, depois autocarro de novo..., portanto tenho de sair às..." So, P., sorry for that, I know you are the only lady here and we were a little carried away. Apenas sorrio, será que perceberam que o meu corpo estava aqui mas mentalmente estava noutro sítio, sorri P., sorri, always works.
Há dias assim... em que vamos a um concerto que já estava marcado há um mês, entretanto desmarco uma série de programas sociais (you are a very busy woman, como já ouvi sarcasticamente esta semana) e quem faz a abertura do concerto revela-se alguém que acabou de sair do Woodstock de há mais de 20 anos atrás. Xiii, essa não deve fumar outra coisa que não maconha, comenta D. Eu diria mesmo ácidos, diz P. Depois dum intervalo - confesso que aceitei o convite para o evento social organizado pela galera brazuca, para não ficar de fora - percebo que nem sabia ao que ia e espero que a promessa de melhores actos se concretizem. O milagre surge impersonificado num Stevie Wonders 20 anos mais novo: Raul Midon. Cego de infância também, Raul faz 'música completa' apenas com uma guitarra. Náo dá para explicar, 'googlem no youtube' e perceberão do que falo.
Há dias assim... em que organizar a brasileirada para se decidir a jantar leva 40 minutos, para acabarmos num diner americano aberto 24 horas, mas com ambiente paquistanês e MTV em barulho de fundo... Uma lista infindáveis de batidos desde a peanut butter a OREO cookies, entre batatas fritas e hamburgueres, perdi a vontade de comer. Engulo o 'jantar' a algum custo e as badaladas de Cinderela arrastam a galera em direcção à estação para apanhar o último metrô. A Cinderela aqui resolve ir de ônibus.
Há dias assim... em que esperar um autocarro é como esperar a abóbora com o Príncipe Encantado. A Cinderela desiste e apanha a cabaça, aproxima-se do destino final, mas perde a ligação e quando dá por ela está a ir para casa a pé a horas tardias, pois está farta de contos de fadas e com sapato ou sem sapato, àquela hora já estaria em casa. Nem o cemitério da igreja a afasta de tal determinação porque com -2º até fantasma nem quer saber sair de casa e vampiro congelou.
Há dias assim... em que depois duma longa jornada,a garganta a doer, os dedos sem manifestação de vida, a Cinderela cai em si e percebe que não deixou de ser a empregada doméstica. Uma pilha de loiça da semana na bacia e um nervoso miudinho que me invade.
Há dias assim... em que mais vale dormir para esquecer o pesadelo do dia seguinte...

10.11.07

SINAL DE VIDA

Dada a inexistência de comentários nas últimas entradas de blog resta-me a dúvida:
Está aí alguém?

6.11.07

OUTONO








É oficial, chegou o Outono...
Não é que eu tivesse dúvidas, ainda para mais depois deste Verão que somente o calendário nos remetia para algo chamado Estio.
Apesar da natureza nos presentear com o maior festival cromático do ano, com o Outono vem o frio, vem a escuridão, vem a melancolia... A sensação de que a partir de agora temos mais uns meses pela frente em que as temperaturas irão continuar a descer, o sol a desaparecer mais rapidamente. Meses em que eu me sinto tal e qual urso polar e só me apetece hibernar... desaparecer na toca e esperar por melhores dias...
Mas depois temos momentos em que nos lembramos ou voltamos a ser crianças: pisamos nas folhas e elas fazem o som crispo tão característico desta época ou as castanhas assadas que começam a proliferar a cidade com o aroma típico de S. Martinho, os primeiros dias frios em que sentimos que o Natal é já ao virar da esquina e que o Inverno está definitivamente a bater à porta. Momentos em que nos remetem para memórias, para saudades do Verão que passou, para uma melancolia que nos invade e se apodera de nós, sem pedir autorização... e ironicamente, começamos a tirar prazer de pequenas coisas da vida: os esquilos que correm completamente desnorteados à procura de mantimentos para a próxima estação, as sombras das poucas horas de sol, os raios de sol que me inundam por poucos minutos enquanto o sol muda de trajectória e que fazem o meu cabelo cor de fogo, a capela perdida entre as árvores, os raios de sol que passam entre as folhas e as árvores meio despidas na minha rota diária para o trabalho...
Eu sorrio e apanho de soslaio alguém que me sorri de volta, e penso: afinal, afinal, o outono não é assim tão mau...