12.4.07

MISSÃO



Quem vive no estrangeiro mais precisamente em Londres sabe que pelo menos uma visita ao IKEA faz parte de qualquer experiência de emigrante sub-30. Este fenómeno de globalização em que nos sentimos em casa em qualquer parte do mundo a partir do momento em conseguimos reconhecer produtos IKEA deixa muito em que pensar. Não está aqui em questão a oferta económica e de design do IKEA, nem o conceito que realmente satisfaz um propósito e tem-se revelado muito bem sucedido. A verdade é que apesar do seu conceito global, cada ida ao IKEA é uma aventura e as histórias multiplicam-se nas minhas crónicas londrinas.
Em Londres uma ida ao IKEA vira uma missão. Requere um método, uma estrátegia e um plano de ataque, se não somos invadidos pelo inimigo e quando damos por nós perdemo-nos e falhamos.
Após um ano de preparação, é verdade já lá ia 1 ano que não me propunha a tal feito, desta vez era A missão: a compra do tão desejado e necessário armário.
Ao fim de 2 anos e meio descobri que a razão pela qual nunca tinha comprado um armário para a minha roupa era que até agora tinha achado que estava em vias de fazer as malas, a ideia de desaparecer um dia pela madrugada com a minha mala despedindo-me de Londres sem dar satisfações a ninguém parece que nunca irá acontecer dada a quantidade de tralha que já consegui juntar. Portanto por mais 1 ano achei que valia o esforço desta missão e estabeleci o plano.
Um bom plano começa por uma lista de coisas absolutamente e estritamente necessárias seguidas duma pesquisa exaustiva de produtos no catálogo online. A estratégia implica seleccionar a loja que permita menos tempo de deslocação e uma menor distância entre transportes públicos. O dia D: sexta-feira à noite. Não é o programa ideal de uma sexta à noite mas o dia perfeito para o IKEA, depois do trabalho - como podem imaginar a movimentação dentro da loja é fluida dado o pouco número de pessoas - está aberta até às 10 da noite o que permite pelo menos umas boas 2 hrs de compras (mais do que suficiente) e no dia seguinte dada a missão exaustiva posso dormir até mais tarde e preparar-me para a segunda etapa do processo: a montagem.
Fui com a minha 'flatmate' A., até porque o processo torna-se mais económico e para além disso também ela ia em missão armário.
Chegadas ao IKEA por volta das 7.30, munidas da fita métrica, do lápis e da lista de notas fomos direitinhas à secção dos armários. Depois de quase meia hora a abrir e fechar armários e de fila fomos atendidas e prontamente estabelecemos e definimos o que queríamos.
Afinal dá jeito fazer lista e mantermo-nos focadas!!!
Referências impressas e mais uma volta pela loja para juntar as últimas coisas da lista. Apesar desta estar absolutamente cumprida, o apelo das cores e do design e a vontade de consumir levaram-me a adicionar umas quantas coisas extras ao carro de compras.
9.30 da noite e dirigimo-nos às últimas alas. Tínhamos feito mal as contas ou talvez apenas por esquecimento, as portas e estrutura do roupeiro tinha nada mais nada menos que 2,40m. Ora bem, isso é uma Prainha e meia. Dado que eram 2 portas x 2 armários x 2 estruturas, podem imaginar que não se revelava tarefa fácil para ninguém quanto mais para duas chicas. Tanto aisle e location, que de repente apercebemo-nos que tínhamos as portas erradas. A juntar à confusão, uma voz inundava o espaço comercial: WE ADVISE ALL THE COSTUMERS TO GO TO THE CASHIER. WE'LL BE CLOSING IN 15 MINUTES. I REPEAT, 15 MINUTES.
Deu-me um ataque de riso de nervoso, nem tinha forças para tirar as portas erradas. Conclusão corremos para ir buscar outro carrinho e toca a juntar os pacotes. Nova voz: WE ADVISE ALL THE COSTUMERS TO GO TO THE CASHIER. WE'LL BE CLOSING IN 10 MINUTES. I REPEAT, 10 MINUTES. Tínhamos de mudar de estratégia e enquanto uma juntava as coisas e procurava a localização a outra, mais precisamente eu, corria que nem louca para a caixa para guardar lugar. WE ADVISE ALL THE COSTUMERS TO GO TO THE CASHIER. WE'LL BE CLOSING IN 5 MINUTES. I REPEAT, 5 MINUTES. 5 minutos e ainda metade das coisas espalhadas pela loja. Depois do sprint final tínhamos 4 carrinhos cheios de tralha... Completamente exaustas, depois da voz de encerramento, ainda havia pessoas completamente descansadas a deambular calmamente pelas alas... Aprendi a minha lição, numa sexta-feira à noite não há mesmo tempo para stressar...
A nossa aventura não acabaria aqui pois quando nos dirigimos aos táxis - serviço de IKEA, pacote total: compras + clientes na mesma viatura, ideal para quem não tem carro, o condutor disse-nos que não caberíamos no carro. E que para além disso precisava de alguém em casa para ajudar a descarregar. Olhámos as duas um pouco desconcertadas, sem perceber... Sim, confirmámos que tínhamos 4 carrinhos de compras e que quem acharia ele que o ia ajudar... Nós, afinal, afinal, quem pensava ele que tinha trazido os 4 carrinhos até ali? Duendes?
A descarga foi rápida e eficiente, depois de tamanho 'insulto' e nem queria acreditar quando caí na cama...
Mais uma missão cumprida!!!

11.4.07

011 THE ISLAND


6 da manhã... Acordei com China a bater-nos à porta a comunicarmo-nos A situação.
Meia estremunhada, tive de lhe pedir várias vezes para repetir o que me dizia para me enteirar de todo que estávamos presas na ilha. O barco que nos levaria de volta a terra estava cancelado devido ao mau tempo no mar, e ao que parecia manter-se-ia assim por mais 2 dias.
O sol recusou-se a espreitar e a perspectiva de ficar num bungalow juntamente com os geckos e sem poder usufruir de banhos em água turquesa pareceu-nos um final menos feliz para esta viagem.
O recepcionista do hotel ao ver o nosso ar desesperado ofereceu-se para arranjar bilhetes de avião através dum amigo dum amigo, isto claro, a troco dumas quantas notas. Claro que aceitámos apesar do regateio do preço, e quando démos por nós estávamos a entregar passaportes e uma mão cheia de dólares e a correr fazer as malas.
20 minutos depois e os nossos passaportes felizmente regressavam. China e Pequim partiriam no vôo das 10 da manhã e Saigão e Vietname no das 12. Não percebemos o porquê desta organização aleatória dos bilhetes, mas nesta altura o que interessava era chegar a terra.
De malas às costas mais as milhares de saquetas nas mãos, lá me consegui equilibrar na 'garupa' da mota. O meu corpo, ainda dorido da viagem do dia anterior, contraiu-se todo tentando agarrar-se a qualquer peça estável da mota. As quatro motas dispersaram-se rumo ao aeroporto, deixando rastos de poeira vermelha. Senti-me tal e qual em raly de todo-o-terreno.
Eu e China fomos praticamente as primeiras a fazer check-in e o nosso 'mafioso' sugeriu que Vietname e Saigão se pusessem na fila de stand-by para o mesmo vôo. As horas foram passando e a hora de embarque chegou. Era definitivo, as outras duas iriam mais tarde, mas estava tudo combinado. Chegávamos a Saigão e esperaríamos por elas para apanharmos o vôo directo para Ha Noi, no norte. Até ganhávamos um dia de viagem e ainda poderíamos fazer mais um dia em Halong Bay, afinal de contas há sempre males que vêm por bem.
Estava eu e China a prepararmo-nos para almoçar e matar tempo quando Vietname liga (felizmente lembrámo-nos de dividir os telemóveis, bilhetes, guias turísticos e tudo o resto). O almoço ficou atravessado mas passado o choque inicial, lá acordámos que dado que tinham ficado em terra, tentariam no dia seguinte um dos 4 vôos disponíveis, mais uma vez através do irmão do amigo do amigo do 'mafioso' que era piloto e que tinha direito a 2 bilhetes. Ao que parece o vôo onde era suposto irem estava cheio e sendo o último vôo do dia, só lhes restava esperar pelo do dia seguinte.
Conformadas eu e China continuámos viagem para Ha Noi, ficaríamos no hotel de escolha do autor do guia LONELY PLANET e esperaríamos por elas para darmos início à exploração do norte.
Como já tinha dito a vantagem de ir numa viagem de 4 pessoas é que as aventuras multiplicam-se... A desvantagem é que infelizmente não posso dar a outra versão da história de uma forma precisa.
Aterrámos em Ha Noi mas infelizmente no meu guia não era bem clara a escolha do autor. Portanto depois dum breve estudo dos hotéis, negoceámos o preço fixo do táxi e rumámos as duas a aventura. 30 minutos no táxi e comentámos que o nosso guia devia ser um homem popular dado o número de telefonemas que fez e recebeu. Claro que se tornou claro quando de repente chegámos ao nosso destino e dois funcionários dirigiram-se a nós dizendo que estava cheio, mas que no entanto o mesmo hotel tinha outro edifício mais à frente. Quando démos por nós já estavam dentro do táxi e em vietnamita indicavam o caminho. Apanhadas no esquema feitas patas não quisémos dar parte de fracas e logo que chegámos ao destino saltámos do carro, prestes a tomar drásticas medidas em todo o caso. O taxista claro quis-se aproveitar da confusão e já pedia o dobro do preço. Levantei a voz e abri os olhos, paguei o que tinha acordado e só desejei para que pelo menos o quarto fosse aceitável e a cama sem piolhos...