10.2.07

010 THE BEACH

















Por mais que aspire a dias estirada ao sol, sem fazer nenhum, a verdade é que o sol tropical não é meu amigo. Acabo por ficar confinada à sombra dos coqueiros (quando os há) e se possível com vista para a água turquesa. Isto parece sonho, mas a verdade é que ao fim de 3 hrs estou completamente impaciente e começo a ficar com bichos carpinteiros...
Ora as minhas companheiras de viagem pareciam sofrer do mesmo mal e logo que surgiu a oportunidade para evitar tamanho entediamento, optámos por ir num tour organizado de 'snorkeling' para um arquipélago ao sul da ilha. Dado que a 'fauna' local de mergulhadores e instrutores prometia um dia bem passado, resolvemos ir num grupo...
Uma carrinha veio buscar-nos, e as misses viraram sardinhas em lata... Para começar, se o ir apertada fosse apenas o problema, seria bom... A carrinha (daquelas para 9 pessoas) devia ter sido do tempo em que o galego pisou pela primeira vez a ilha... os assentos abanavam por tudo o que era sítio, suspensões inexistentes, a porta não fechava e os vidros não corriam. Isto em estradas de terra batida, daquela vermelha, a poeira a entrar por todas as janelas, e eu a bater no tecto, cada vez que a carrinha pisava num buraco... Podem imaginar o meu estado quando cheguei ao porto: cabelos em desalinho, cara e roupa cor de poeira vermelha...
Sempre animada, lá nos levaram ao barco. Depois de instaladas, chamaram-nos outra vez: porque queriam que fôssemos noutro barco... Volta a trocar de transporte... Mandaram-nos subir para o topo do barco pois a proa já estava lotada - de crianças (lá se foram os mergulhadores). Lá em cima já se encontrava um casal sino-sueco instalado. Novamente com limitações de espaço, pelo menos à sombra, démos início à operação protector solar e arrancámos rumo ao desconhecido.
A paisagem é indescritível, mas para quem já esteve nas ilhas tailandesas assemelha-se em tudo. A água turquesa onde os barcos da mesma cor se confundem com o fundo. As ilhas virgem, onde os coqueiros limitam a verde a língua amarela de areia e onde de vez em quando é possível descortinar uma palhota e crianças a correr na praia. Cenário tropical digno dum filme de James Bond...
O barco parou junto a uma ilha desabitada. Agora a missão das Bond Girls era outra: equipar-nos para a nossa expedição de snorkeling. Confesso que foi a primeira vez que o fiz com o equipamento todo. A última vez julgo que teria sido aos 9 anos nas Filipinas em que pisei num ouriço enquanto punha os óculos e andei com os espetos enfiados no dedo grande do pé durante uma semana.
Ainda estava eu a experimentar o colete (ainda traumatizada, não queria pisar outra vez num ouriço), já a criançada estava a atirar-se à água. Estava eu no ar para mergulhar e a criançada a voltar rumo ao barco. Gritavam e coçavam-se. Meio em francês, meio em sueco, lá conseguimos perceber que tinham sido picados por alforrecas e que a água estava cheia delas. Como não eram vistas a olho nu, resolvi deixar e aventurar-me. Senti umas picadas mas nada que não fosse suportável e dei início à minha exploração subaquática. Confesso que estava à espera dum mundo mais cromático, no entanto a visão de ouriços gigantes como nunca tinha visto antes fizeram-me arrepiar e agradecer o facto de ter um colete para poder flutuar. Mas os peixinhos começaram a surgir e a vir cumprimentar-me. Tal e qual criança deixei-me estar na água até ficar encarquilhada até que nos chamaram e rumámos para A PRAIA, a visão do paraíso não fosse a existência e sinais de vida humana.
Com o barco ao largo, nadámos até à areia. Deixo o resto à vossa imaginação, mas ainda hoje imagens deste dia me vêm à memória, tal e qual postal.
Só acrescento que enquanto almoçávamos a mulher do casal sino-sueco queixava-se que não tinha dormido nada, devido à presença de bichos estranhos no telhado, ela achava que eram ratos. Conversa puxa conversa chegámos à conclusão que eram os vizinhos do nosso bungalow... Lá a descansámos comunicando que não eram ratos, mas lagartos, ao que o marido sueco concordou e agradeceu-nos...
Nisto surge-nos A personagem: Bond girls conhecem Zezé Camarinha II. Achavam vocês que Zezé era só um, pois tenho-vos a dizer que não é só exclusivo como também vem noutras línguas e tamanhos. Pacote francês, mas bastante poliglota, um italiano nascido em França e que se desenrascava em inglês. Com tal visão das beldades, quis tirar até foto com as misses para mostrar aos amigos. Charme não faltou e deixas como ´Eu gosto é das morenas!', fazendo sinais para China e Saigão e 'as portuguesas são mulheres gostosas!' deixariam Zezé Camarinha I completamente fora de jogo.
Regresso ao porto, démos início a viagem em poeira vermelha parte II. Desta vez eu e China no banco da frente. Indescritível, não resisti a registar como movimento e som tais imagens inacreditáveis.. Quantas vezes fechei os olhos e me agarrei a China a pensar que íamos passar por cima ora de cão, ora de galinha, ora de vacas. É incrível como a bicharada e o homem convivem em sintonia nesta ilha, numa coreografia arriscada mas muito criativa.
Para comemorar a condição de sobreviventes resolvemos celebrar a nossa última noite de Verão no bar do Galego. Muito mais podia descrever e relatar sobre as personagens que fomos encontrando ao longo destes dois dias, com uns estabelecemos contacto, com outros limitámo-nos a especular: 'Tarzan', um alemão misterioso, residente há 6 meses na ilha, mas personagem favorito das nossas histórias de espiões e máfia; o casal de australianos que resolveu gozar a sua reforma na ilha; e por último Jack e a irmã, um americano que falava português do Brasil e que ensinava inglês até então na cidade de Rach Gia. Por sinal conhecido em toda a vila dada a sua altura de 2m.
Em grande algazarra, a noite já ia avançada quando resolvemos retirar-nos e o cansaço era tanto que caímos cada uma em sua cama e nem ouvimos os 'tigres' do telhado...

9.2.07

009 GECKOS


As 3 horas de sono para apanhar o avião das 6 da manhã foram compensadas pela a visão da ilha de Phu Quoc. Situada no Golfo da Tailândia, podem imaginar que a paisagem é em tudo muito semelhante ao que os folhetos turísticos tropicais publicitam. A vantagem é que nesta ilha, de turismo ainda se sabe muito pouco e as infra-estruturas (in)existentes ainda vão afastando o turismo em massa tornando-a genuína e inexplorada. Segundo consta, na selva que ocupa metade da ilha, onde nenhum turista está autorizado a ir, pode-se encontrar a mais estranha e selvagem bicharada: tigres, cobras e o mais variado número de répteis.
Depois dum sol dúbio entre nuvens que salpicavam os céus, o tempo abriu e o paraíso revelou-se. Não faltaram os coqueiros, a areia amarela, a água quente e turquesa e o bar de praia, caipirinhas vietnamitas ao 'sabor' dum pôr-do-sol quente e vermelho e espreguiçadeiras esperando por nós.
Em trajes mais reduzidos foi um típico dia de praia e de inactividade: ouvir o som das ondas, perder a conta aos banhos, enterrar os dedos na areia e esticar-nos à sombra dos coqueiros.
A noite chegou e dirigimo-nos ao restaurante/bar de praia, o ponto de encontro do nosso lado da ilha. Ainda no bar o dono, residente na ilha há 15 anos, por sinal galego, ouvindo falar em português, meteu conversa e nomeou-nos as primeiras portuguesas a pisar na ilha. Esquecemo-nos da bandeira nacional ou da cruz, tal e qual descobridores em terra firme.
Fomos apresentadas à fauna local, principalmente um tal de GECKO, um lagarto que emite um som parecido com gecko, daí o nome... Saigão e eu familiares com esta bicharada devido a experiências prévias, confortámos Vietname e China defendendo os pobres 'lagartuxos' que comem os mosquitos e são completamente inofensivos...
Depois de espetadas de tubarão e de camarão grelhado, recolhemo-nos aos aposentos.
Eu fiquei com Saigão no quarto e China e Vietname ficaram no bungalow do lado.
O nosso bungalow era a típica infraestutura de praia. Muito modesto, tivémos direito a mosquiteiros nas camas e a ideia de adormecer ao som das ondas, acordar com vista para o mar e sair directamente do bungalow para a areia da praia compensaria a ausência de chocolates e orquídeas nas almofadas, o tão aclamado luxo asiático.
Depois de distribuídas as camas chegámos à conclusão que o meu mosquiteiro não funcionava... Determinadas a resolver e improvisar o assunto, ouvimos um barulho estranho... O nosso quarto era geminado, ainda pensámos que poderia ser do lado... Mais outro som indefinido e olhei para Saigão... Ela devolveu-me o olhar intrigado. Não foram precisas palavras pois sintonia feminina existe e sem dizermos uma palavra resolvemos partilhar a mesma cama. Eu por via das dúvidas resolvi deixar a minha lanterna de LEDs junto à cama. Já deitadas, o som começou a ser ensurdecedor e por mais gecko que parecesse, o som era de patas rastejantes no telhado e tecto. As duas completamente encostadas uma à outra arregalámos os olhos e 'os ouvidos'. E fez-se luz... Apontei a lanterna ao tecto e parou... Mais descansadas voltei a desligar a luz e tentámos adormecer... Silêncio... Por pouco tempo e de novo o barulho... Só vos digo que foi a noite toda assim: '- Saigão acorda, acende a luz!!!!! O bicho vai-nos cair em cima da cabeça! Pequim, ouviste aquilo, passa aí a lanterna!!!' Demos conosco a rir a bandeiras despregadas, pois parecíamos miúdas pequenas com medo das lagartixas... E só pensávamos nas desgraçadas, pois se nós, as experientes, estávamos naquele estado - de cabelos em pé - imaginem as vizinhas do lado!!!!
Ao fim de algumas horas completamente exaustas, com gecko ou sem gecko adormecemos...
A manhã chegou... 7 da manhã e Vietname e China já a pé desde as 6 da manhã... Meio estremunhada, eu fui a última a chegar ao pequeno-almoço... Saigão dirigiu-se a mim comentando: '- Nem imaginas o que aconteceu a estas misses. Vê lá tu que dormiram as duas na mesma cama... Tiveram medo das lagartixas... Que raio de aventureiras me saíram!!!' Pisquei o olho a Saigão e sorri... - Realmente, medo das lagartixas... Pffff! Então mas elas são completamente inofensivas, só fazem é barulho... '
Vietname e China um pouco envergonhadas sorriram e rimos todas...
O sumo natural de ananás estava excelente e o dia prometia...

8.2.07

MISSION ACCOMPLISHED 008







Julgo que as imagens por si só valem por mil palavras...
Deixo ao vosso critério a avaliação final e comparação entre a realidade e as montagens...


(images from flickr)

008 MEKONG DELTA











Levantar às 6 da manhã quando se está de férias dá que pensar mas quem corre por gosto não cansa e já começávamos a habituar-nos a essas andanças. Portanto às 7.30 da manhá já estávamos nós a caminho do Mekong.
Escusado será dizer que tivémos direito a mais uma viagem de autocarro atribulada, por entre terrinhas perdidas onde as meninas de escola ainda andam de Ao Dai (traje tradicional vietnamita) remetendo-nos para um universo absolutamente cinematográfico da Indochina.
Finalmente lá chegámos ao tão prometido delta, onde de barco percorremos centenas ou milhares de metros entre estruturas palafitas, embarcações dos mais diversos tamanhos, braços de rio fazendo lembrar o pantanal brasileiro. No entanto, a hora de almoço foi passada numa rede ao som de pássaros e toda a mais estranha bicharada.
Voltando ao barco, mais uns metros pelo rio acima pela 'Amazónia Vietnamita', deixaram-nos algures no meio da hiléia onde fomos dirigidas a um grupo que cantava música tradicional e onde China teve oportunidade de mexer em favos de mel cheios de abelhas e tocar numa píton. Achávamos nós que a maratona mekongueira acabaria por aqui, eis quando se não nos enfiaram às quatro numa carroça conduzidas por um burro. Senti-me tal e qual em missão de rally paper, a diferença era que as mensagens eram em vietnamita e nós limitávamo-nos a seguir instruções. Depois da galopada do pobre burro por entre aldeias onde os locais nos acenavam e sorriam, dirigiram-nos de novo ao rio... Desta vez uma canoa: as 4 tivémos direito a 'remadoras' mas quando as outras embarcações nos começaram a ultrapassarm, as mulheres olharam para nós e murmuraram algo. A língua não tem barreiras e entre linguagem gestual e muitos sorrisos quando démos por nós estávamos nós a remar também. A maratona mekongueira passou mesmo a filme de acção e China à frente tão entusiasmada ia que remou pelas 4.
A mensagem final levou-nos a uma fábrica de rebuçados de côco de onde ainda hoje me lembro do cheiro e do sabor do doce ainda quente. Etapa cumprida, com os doces colados aos dentes, lá seguimos para mais um barco para regressar a terra e despedir-nos de tal intensa jornada.

7.2.07

HMS BELF 007



As fotografias não conseguem mostrar todo o trabalho de bastidores e animação que esteve por detrás deste projecto.
HMS Belfast para mim foi como montar um espectáculo: tivémos direito a fumo, a projectores de cinema, a flashes e "moving heads" para recriarmos uma busca em alto mar.
Na véspera juntámos todos os diferentes elementos do espectáculo na mesma programação, tarefa parecida com um jogo de computador, onde tudo foi testado e sincronizado para o ser o mais realista possível. Ainda melhor, diria... A sensação é de que de repente tudo o que é decidido por um botão será visto por milhões de pessoas em terra, no mar e no ar, como me descreveu o meu colega designer, companheiro de muitas horas de esforço físico, que na altura sobrevoava o Tamisa... Em terra, ou aliás, no mar/rio depedi-me do navio já quase às tantas. Tudo o que é iluminação exterior só pode ser testado quando o sol se põe. No entanto a satisfação era de missão cumprida.

007 ANO NOVO, VIDA NOVA








Fiquei a saber que a forma como passamos os primeiros 12 dias do ano ‘determinará’ o que nos reserva o futuro, tipo bola de cristal. Mais uma tradição ou crença que aprendi e posso dizer-vos que o meu ano promete, já que os primeiros 12 dias coincidiram exactamente com o final da viagem a 12 Janeiro. O meu Janeiro foi bastante atribulado, divertido e cheio de histórias para contar. Hoje devo-o ao dia 1... Completamente inesperado, assim como surgiu, o mês terminou...
Devido à impossibilidade de passarmos o ano novo na praia, por causa de mau tempo e cancelamento de transportes, decidimos dar início à vida nova com uma excursão de 2 dias pelo delta do rio Mekong. Prevíamos poucas horas de sono, dado que a partida estava marcada para as 7 da manhã.

Para começar as poucas horas transformaram-se numa noite completamente em branco, não devido a rambóia de ano novo, mas a uma outra razão que ainda hoje estamos para descobrir. Eu arriscaria a culpar as folhas de mimosa no caldo da ceia do ano velho. É uma planta que reage ao toque e que eu me lembrava da minha infância das explorações do jardim. A minha experiência limitava-se apenas a tocá-las para ver as folhas fecharem, mas daí a saber que se podia comer... As minhas companheiras não acreditaram em mim, mas o que é certo é que as únicas 3 que comeram a sopa foram as que não pregaram olho a noite toda... Mais, para acrescentar uma de nós teve uma recaída, o que se chamaria uma 'típica doença de viajante' e as incursões à WC multiplicaram-se pela noite adentro. Uma baixa no grupo e uma nova estratégia de ataque: adiámos a ida ao Mekong por 1 dia e as restantes 3 resolveram fazer uma excursão dum dia pelos arredores de Saigão.
De autocarro mas em estradas do tempo da guerra, os 50 Km transformaram-se em 2 horas. Mesmo a tempo para a cerimónia no templo de CAO DAI, descobri que a espirítualidade não tem língua e nacionalidade. Duma arquitectura invulgar, a hierarquia cromática dos fatos dos monges completavam o cenário. Mas a hora de almoço aproximava-se e novamente de autocarro rumámos ao local do almoço. O calor era insuportável: abafado e quente, mas felizmente o restaurante era ao ar livre.
Esganadas de fome, pedimos e enquanto comíamos Miss Vietname começou-se a entusiasmar com descrições médicas. Já estarão a ver o que se passou...
Pedi a Viet para mudar de assunto porque me sentia esquisita e enquanto Saigão olhava para mim, limitei-me a dizer que achava que ia desmaiar. O que se passou nos seguintes minutos foi-me descrito dado que perdi completamente a conciência.
Miss Saigão situada à minha frente diz que levou algum tempo a perceber o que se passava. Parece que desmaiei de olhos abertos, mas continuei a olhar para ela. Os meus lábios tornaram-se roxos e desfaleci em direcção a Vietname. O grupo inteiro correu para nós e aparentemente enquanto uns puxavam-me os pés para cima, outros abanavam-me, outros traziam a água e o pak fah yeow. Quando abri os olhos, tinha 20 cabeças inclinadas para mim. Mais uns abanões, um novo perfume e litros de água pela goela abaixo, limitei-me a continuar a comer como se nada se tivesse passado... Como diria o nosso guia - strong girl!!! acompanhado de umas palmadas nas costas que quase me empurraram 2 m à frente.
Mas a nossa aventura não terminou aqui, pois ainda seguimos para os túneis de Cu Chi onde os Viet Cong se esconderam dos americanos. Uma verdadeira lição de história pelo nosso guia SON, por sinal um verdadeiro personagem e artista... ' My name is SON, S - O - N, if you forget me I'll forget you.' Son's group!!!! Follow me! To the tunnels!!!'
Se no início não me sentia nada entusiasmada em ir ver os túneis, hoje acho que estar em Saigão e não ir a CU CHI é ignorar uma parte essencial da história. São estruturas impressionantes construídas ao longo de 15 anos, onde pessoas cresceram, viveram e morreram. Resultado dum instinto de sobrevivência e de inteligência, tudo foi pensado, desde armadilhas, ataques, saída de fumos, é uma cidade debaixo de terra em que a largura máxima dos corredores não ultrapassa o mínimo exigido pelo RGEU. Eu que sou 'petite' tive dificuldade em encaixar e muitos ficaram com medo de ficar presos e entalados... Enchi-me de coragem e desci, 5 minutos às escuras, buraco claustrofóbico e eu a pensar: Se desmaio aqui novamente estou metida numa alhada!!! Fiz das tripas coração e consegui fazer os 60 metros.
De regresso a Saigão, pelos campos de arroz, o sentimento geral era de respeito por um povo que passou por muito...

6.2.07

HMS BELF 006






Dois dias para o lançamento e uma nova perspectiva do navio...

OO6 PASSAGEM DE ANO


Dia 31 de Dezembro para mim é sempre um dia peculiar. Fico com a sensação de que o ano velho já está gasto mesmo e qualquer coisa que aconteça pertencerá sempre a um passado. O ano novo por sua vez traz consigo a novidade, a expectativa de que o futuro será ainda melhor que o passado.
Por outro lado, é um dia diferente dos outros e mesmo que alguém diga que não acredita em superstições ou tradições o que é certo é que nesta altura os rituais multiplicam-se. Na minha opinião esta necessidade reside no facto de que eles servem para justificar as coisas menos boas da nossa vida e sempre que não os cumprimos, culparemos sempre essa nossa falha. Coisas como passas, champanhe, roupa interior azul oferecida, roupa nova não me passaram pela cabeça quando preparava a bagagem. Com isto podem imaginar que o desafio para este ano novo era maior do que os outros, dado que no Vietname este coincide com o Ano Novo Chinês a 18 de Fevereiro (véspera de meu aniversário, não resisti passar esta informação aos meus atentos leitores) e não havia evidências de que algo especial se passaria à meia-noite desse dia.
Mas verdade seja dita, o objectivo de viajar é sermos confrontados com diferentes realidades e contarmos com o nosso espírito de improvisação para ultrapassar os obstáculos.
China trouxe as passas embrulhadinhas num guardanapo, vindas directamente de terras lusas. Num rasgo de lucidez tirou uma mão cheia delas e saiu porta fora rumo ao aeroporto. Organizada como é, trouxe também a tão afamada roupa interior azul e até a dobrar. Confesso que esta última tradição intriga-me, alguém me explica?
As passas, talvez por serem doces e nobres - pretensiosas na minha opinião, é sempre um sacrifício comê-las -; 12 por serem 12 badaladas e 12 meses do ano; em cima da cadeira para entrar bem alto, e ao pé coxinho para se garantir entrada de pé direito; roupa nova pela novidade; de branco para uns, porque simboliza pureza e para começarmos limpinhos, mesmo que ao fim da noite, as nódoas povoem. Numa pesquisa pela web encontrei uma teoria de um "iluminado" que passo a transcrever:

"Se comes passas quando passas a passagem de ano, então se comeres pinhões quando pinhas a pinhoagem de ano, o resultado será o mesmo?
Este ano experimentei também uma coisa igualmente ridícula: Meter-me em cima duma cadeira com uma nota na mão e agitá-la para dar sorte (isto há com cada um...)
E outra: Porque razão sempre que há a contagem decrescente, se começa sempre no 10?porque não no 39 ou no 59?E já agora, que cena é esta de nunca ninguém conseguir acertar nos primeiros segundos a contagem decrescente?é que é tipico! Enquanto um vai no 8, outro já vai no 6, e depois há outro que diz "espera aí, espera aí!""

Mas nada de roupa interior azul!!! Lanço o desafio...
As misses lá se resolveram e 3 foram vestidas de branco, uma outra com roupa nova, eu tive direito a roupa interior azul que China me ofereceu. Preparadas para o ano novo no calor, que é um luxo e novidade, a bem ou a mal, a boa disposição reinava.
Bem, depois da várias tentativas frustradas de passar o fim-de-ano num restaurante ou bar animado, acabámos mesmo na rua. Esperávamos fogo-de-artifício ou barulho de panelas, mas apenas um conjunto de balões que inundou os céus e que demorou 5 minutos a chegar a nós. Nesta confusão enquanto uma começava a contagem decrescente e outras já estavam aos pulos em pé coxinho, a tentar contar as passas, que não eram 12, mais todos os desejos que ficaram esquecidos e a seco, dada a ausência de champanhe, lembro-me de parar no tempo.
Quando dei por nós, algures depois das 7 passas e meia e das 12 badaladas contadas 4 vezes, estávamos praticamente no meio da estrada, rodeadas de vietnamitas nas suas vespas que nos cercaram 360º. Divertidíssimos com as nossas manifestações, as 4 abraçadas em roda e aos pulos, foram atraídos pela nova coreografia vinda directamente do Ocidente. Passada a emoção, um pouco desorientadas olhámos para trás de nós e deparámo-nos com o bar da moda cheio de estrangeiros e gente estirada na relva e à volta da fonte. A proximidade do champanhe levou-nos a correr e saciada a sede, ainda deu para balançar o corpo ao ritmo de música mais da moda e contemporânea por mais umas horas.
O que é certo é que mesmo sem o cumprimento estrito de todos os rituais exigidos, este ano começou da melhor forma: rodeada de amigas, calor, boa disposição e na expectativa de muitos dias e emoções futuras...

5.2.07

HMS BELF 005



Foram dias de intenso trabalho físico, se eu no início gozava da solidariedade e compreensão por ser do 'sexo fraco' e fui dispensada do trabalho árduo, nesta altura isto já não serve de desculpa. Tornei-me a mascote para os meus três companheiros masculinos: meu colega designer e dois técnicos. E se alguém me viu a subir às gruas e aos mastros e pendurada nos canhões, fazer ligações tal e qual electricista, carregar luminárias quase maiores que eu, não foi alucinação, foi a mais pura realidade.

Estes dias de instalação só me vieram confirmar que com trabalho de equipa tudo se consegue e que afinal trabalho de designer não se limita a muitas horas atrás dum écrã. Os testes foram feitos, as cores seleccionadas, os filtros postos, apenas falta montar as peças do puzzle, dado que o lançamento começa a aproximar-se...

005 - GOOD MORNING VIETNAM










Saigão - Primeira lição de História:
Em tempos chamou-se Saigão, agora é Cidade de Hoh Chi Min, embora os locais não tenham deixado morrer o velho nome.
Foi fundada pelos khmers (mais uma pesquisa de Google, etnia de Cambodja), sendo conquistada pelos anameses (da região de Anaam, também aprendi esta) no século XVII. Ocupada pela França em 1859 (confesso que tenho algumas falhas no domínio da História Mundial, mas uma coisa é certa estes também estão em todas?!!! E ainda acrescento, com a ajuda dos Espanhóis!!!) tornou-se na capital da Cochinchina (afinal, afinal, fui parar à Cochinchina) e, mais tarde, de toda a Indochina Francesa (Laos, Cambodja e Vietname), até 1902. Em 1954 tornou-se na capital do Vietname do Sul tendo sido o quartel general das tropas americanas durante a afamada guerra do Vietname. Em 1975 as tropas do Vietname do norte entraram na cidade, marcando o fim da guerra.
Parada no tempo desde então, embora actualmente tenha começado a despertar e abrir ao mundo, Saigão ainda retém algum do seu charme francês no meio dum caos asiático. Cidade cosmopolita na sua modesta escala, acolheu-nos da melhor maneira. Deambulámos pelos vários bairros, ainda com vestígios de arquitectura colonial, fechei os olhos e quase pude ver Macau de novo e encontrar a Ásia que conheci em tempos.
O trânsito é uma loucura: motas e vespas de todo o lado, gente, carros, autocarros, bicicletas, cyclos, não há visão periférica que nos valhe para tanta confusão... Paradas por 10 minutos numa passadeira duma rotunda, com todos os locais a fazer apostas de quanto tempo levaríamos, fomos acompanhadas tal e qual crianças por uma local que teve pena de nós. Do outro lado da estrada, caras sorridentes e divertidas com a atrapalhação das turistas...

4.2.07

HMS BELF 004



Dia de instalação de filtros nas gruas e mastros. Coordenação de cores...

004 - PEK/HAN/SGN VN 071229



Missão mala nr. 02349.
Mais uma mala desfeita para outra se fazer, desta vez a colecção de Verão e Primavera mais o kit todo-o-terreno. Pergunto-me, quando é que inventam um dispositivo que comprima as moléculas de forma a que tudo caiba na tão afamada mala sport billy? Ou então quando é que eu aprendo a levar apenas, mas digo APENAS o essencial, sem restar qualquer dúvida se me irá mesmo apetecer vestir aquele vestido azul que fica tão bem com as chinelas e que por sua vez evidencia o meu bronzeado para as noites quentes... ou quantos dias de expedição todo-o-terreno e poeira vamos afinal ter? Mas confinada a uma mochila não há milagres mesmo nem tempo para hesitações... E claro nesta correria de sair e apanhar táxi rumo ao aeroporto, alguém tinha de se esquecer de algo, e Saigão no seu exemplar chinês conseguiu explicar ao taxista que tínhamos de voltar. Isto seria fácil, não fosse o caso de para se fazer inversão de marcha quase que se andam 20 km e dá-se a volta à cidade...
Chegada atribulada ao aeroporto e correria até aos balcões do check-in... apesar de termos chegado a tempo, já não houve possibilidade de ficarmos juntas e restaram-nos os últimos lugares disponíveis, ou seja uma em cada canto.
Eu não sou do tipo viajante solitária, acho que é muito mais interessante viajar com mais gente pois as perspectivas da mesma realidade multiplicam-se e as histórias também. Tenho a dizer que pelos vistos perdi a viagem de avião mais indescritível dado que adormeci durante as 3 horas de vôo.
M. China ficou sentada à janela, entalada entre um casal de russos, para quem o álcool é um must e que não pararam de pedir vinho, dada a ausência de vodka. Para acrescentar, com as muitas horas de viagem e a proximidade corporal, M. China perdeu o apetite devido aos cheiros diversos.
M. Vietname já cansada dos múltiplos e contínuos empurrões e caneladas da fila que se aglomerava junto à WC cada vez que passavam por ela decidiu ir esticar as pernas. Miss Saigão, na janela, parecia bastante tranquila não fosse Vietname ter reparado que atrás na fila alguém catava piolhos com uma pinça. Escusado será dizer que a sensação de comichão e a paranóia dos piolhos dominou o resto da viagem e nem queríamos acreditar quando chegámos a HANOI.
Confusão para os vistos, 20 minutos sem ver os nossos passaportes e um avião à nossa espera. Mais uma correria até ao avião, desta vez juntas, mas na mesma fila que a mulher dos piolhos.
Finalmente Saigão... Ao som de American Woman de Lenny Kravitz, Saigão irá ficar na memória... Motas e vespas por todo o lado, burburinho urbano, misto de luzes e néons e choque térmico de 30ºC.
Missão hotel nr. 026: ao fim de algum tempo e dada a proximidade da passagem de ano, lá conseguimos arranjar um local limpo mas com surpresas - osgas... Uma noite mal dormida, mas a sensação de que já tínhamos muitas histórias para contar...


3.2.07

BELFAST - CODE 003



Mais um dia de intenso esforço físico. Hoje fizémos a ligação aos canhões... Só nos falta o som de disparo... Isto é trabalho para vídeo, dada a quantidade de truques...

(image by Prainha)

003 - PALÁCIO DE VERÃO





Para quem não é muito familiar com temperaturas negativas, na perspectiva de ir ao Palácio de Verão surgiu a esperança de que o nome, bastante sugestivo por sinal, não fosse apenas pura coincidência. Como seria de esperar, de Verão só mesmo o nome, porque o lago que se encontrava gelado remeteu-nos para um Inverno bem agreste.
A minha experiência com neve e fenómenos típicos destes climas é bastante reduzida, portanto quando nos deparámos com o lago gelado e algumas dezenas de pessoas a atravessá-lo apesar do sinal de proibição fomos à aventura ... Até aqui tudo bem, não fosse a meio do percurso ouvirmos um ligeiro 'crac'. Outros se seguiram... Vietname olhou para Saigão, que por sua vez olhou Pequim, que por sua vez dirigiu o olhar a China. A última por sua vez, apercebendo-se do que significava ou não fosse ela a especialista estrutural, mandou toda a gente afastar-se para equilibrar o peso. E lá fomos nós tentando fazer-nos passar por peso pluma até à outra margem do lago...
Lição a aprender: se há sinal é por alguma razão...
Passada a adrenalina ainda tivémos coragem para subir os quase 300 degraus até à torre do Palácio mas em compensação terminámos o dia num Japonês onde a comida é feita à nossa frente...
Mais uma iguaria asiática a recomendar... E quase trazíamos o 'chefe' para casa, pois pequeno como era e como cozinhava, é algo para se trazer numa mala género sport billy... Como diria China - dá sempre jeito!...

(image by Pequim)

2.2.07

MISSÃO HMS BELFAST - DAY 002


Depois de muitas horas a fazer ligações de electricidade e de milhares de cabos, subir e descer escadotes, chegou a altura de fazer o teste das cores...
Até quando é que se tornará demasiado azul?

(image by Prainha)

002 - CIDADE PROIBIDA






Cooperar com o jet-lag não é tarefa fácil, principalmente quando o nosso relógio biológico apenas sente que é hora de dormir quando do outro lado do mundo é hora de acordar...
Chegar às 8 da manhã a uma metrópole asiática como Pequim em plena hora de ponta, pior ainda. Os sentidos apuradíssimos devido à noite em branco transformaram a cidade num caleidoscópio de sensações inesquecíveis. Percorrendo as avenidas de 8 faixas, onde os arranha-céus proliferam numa tentativa de harmoniosa urbanidade, o burburinho desta cidade em construção e de preparação para os Jogos Olímpicos 2008 vira cacofonia em estéreo. Os cheiros diferentes mas familiares remeteram-me para a minha infância e para um outro mundo de memórias e saudade. Do frio de -5º C pouco tenho a dizer dado que deixei de sentir os pés e as mãos nos primeiros 10 minutos do passeio, no entanto demonstrou ser a solução eficaz para uma noite sem dormir e para mais 16 horas de turismo: os olhos congelam abertos e o corpo contrai-se tanto que afasta o sono.
A Cidade Proibida é como estar num filme e num outro lugar de há muito tempo atrás... Deambular pelas margens dum lago gelado, deleitar-nos com as iguarias locais (ainda há quem fale ainda hoje de umas lulas a saber a amendoim), e por final terminar o dia com uma visita a um SPA, foram alguns dos momentos a recordar deste dia que ainda hoje se encontra bem presente.

(photos by Pequim)

1.2.07

MISSÃO HMS BELFAST - DAY 001



Esta vai ser a operação de 'luzmética' a que nos propusémos. Sendo a temática o teatro, tentámos devolver a um navio que passou pela 2ª Guerra Mundial alguma dignidade (se é que existe essa palavra num dicionário de guerra).
Alguns efeitos especiais, autorizações especiais de utilização do espaço aéreo, mais uns spots e uns actores de Hollywood e teriámos mais um épico de Spielberg...
(image by CampbellDesign)

001 - 'BOXING DAY'



Hoje percebo porque lhe chamam dia do 'empacotamento', dada a quantidade de gente que se encontrava no aeroporto às 7 da manhã, e com a quantidade de bagagem que levavam (eu inclusivé, pois isto de empacotar tralha para 3 semanas para todas as estações do ano, ainda para mais sendo 'menina' não é fácil). Mas estava tudo - passaporte, vistos, dinheiro, cartões, telefones, farmácia, biquini, luvas e cachecol e quatro caras sorridentes: Miss Pequim, Miss Saigão, Miss China e Miss Vietname.
Levantar às 6 da manhã nunca foi tão fácil e carregar maletas também não. O futuro de repente tornou-se presente e depois de tantas semanas de preparação o dia chegou. Confesso que muito não há a contar, foi um dia praticamente entalada em bancos de avião... Depois duma iniciação por 'check-ins' online e de algumas peripécias tecnológicas, mais outras tantas atrapalhações no balcão fomos as últimas a entrar. Miss que é miss é assim...
A chegada a Londres não teve nada a reportar, apenas uns pastéis de nata - 4 - que 'mê' irmão num rasgo de genialidade deixou em cima da mesa 'PARA A VIAGEM'. Mal eu sabia que nos iriam saber tão bem.
No entanto depois de 15 horas de viagens mais umas outras tantas em transfer, 3 filmes, noite mal dormida, dores de costas, tive a certeza de que esta viagem teria histórias para contar, pelas misses, pela animação, pelo espírito...

(foto by Vietname)